Pessoal, eu saí de Setúbal às 2:30 da manhã, todo contente com mais 21 moedinhas de João I para a amostra e com um reforço recrutado, chego aqui e dou com isto... eu percebo a posição de ambos. Um, como aliás eu, não gosta que se validem moedas más. Outro, que comprou uma colecção cheia de tesouros e com alguns "micos" (poucos na proporção do universo total da colecção) e que se calhar acaba por a ver desvalorizada no seu todo. E nem uma coisa faz sentido, nem outra... mas se calhar começamos pelo início, o que pode trazer alguma compreensão e algum apaziguamento nas coisas. Nós, em pequeninos, lemos umas coisas nuns livros de história e vemos uns filmes e uns documentários e tal... e olhamos para um Buda em ouro, ou para um sarcófago antigo, ainda na idade dos porquês, e perguntamos quem são os egípcios, quem foi o Buda, o que é o ouro e de onde vem... e acabamos por fazer estas perguntas porque sabemos muito pouco, e vamos saltando obstáculos, e de cada vez que saltamos as perguntas são cada vez mais, ou deveriam sê-lo. Só que a idade acaba por trazer uma certa segurança, muitas vezes contraditória... ainda antes, na idade dos porquês, à medida que afunilamos o grau de dificuldade das perguntas, a melhor resposta que a dada altura nos podem dar é o apelo à razão de ciência dos especialistas. E como chegar lá parece longínquo, e como o know how dos especialistas parece tão seguro, acabamos por desistir a meio e, de certo modo, por aceitar um dogma. Se não o fizermos, talvez uma surpresa se abata sobre nós. Talvez a segurança mingue e a idade dos porquês volte. Circunscrita a uma área, ou a um aspecto. E é nessa altura que se percebe definitivamente que não há especialistas inatos. E que não há certezas gratuitas que não aquelas em que escolhemos acreditar. E agora prestem antenção, que o que está para cima é um misto entre gosto de escrever mal e tentativa psicológica de vos cansar a todos:
Há dúvidas! Muitas dúvidas! E, quanto mais se sabe, mais e maiores são as dúvidas. Só que diferentes.
Nisto da numismática, há padrões. E esses padrões são verificáveis (alguns instintivamente, outros intelectualmente) num variadissimo número de factores distintos:
Estilo da letra,
Estilo dos elementos tipológicos,
Aspecto do metal,
Aspecto da patine,
Dados metrológicos,
Contextualização histórica,
Contextualização epigráfica,
Circunstâncias do aparecimento de uma nova peça, etc...
Alguns destes vectores, são diferentes em cada numária, em cada reinado e, muitas vezes, dentro de cada reinado, em cada sistema. Quem é que sabe isto tudo?? Quem é o mágico que sabe isto tudo? E quando se esbarra nas dúvidas? Segue-se para a direita ou para a esquerda? E se uns seguem para um lado e outros para o outro?
Em última análise, o que interessará são as competências, dentro de cada vector, para o analisar.
Vamos-nos deixar de tretas, sem querer ofender ninguém, nem criar clivagens.
Quantas moedas te passaram pelas mãos Ivo? Em quantas mexeste? Quantas vendeste, trocaste, olhaste, pesaste?
Eh pá, se calhar até ao fim da minha vida não me vão passar tantas moedas pelas mãos como te passaram a ti. Adquiriste uma competência inegável. Haverá algo em ti, aparentemente instintivo, mas que é resultado de muita experiência, e que te faz perceber, por exemplo, a textura, ou o aspecto, ou o som de uma moeda, de forma totalmente diferente. E naturalmente diferenciável pela positiva!
Temos um especialista num vector, ou em alguns deles.
Esse especialista pode falhar a detecção de uma fundição? Pode falhar a detecção de uma patine falsificada? Pode falhar o grade de uma moeda?
Pode... é a vida, mas pode. Esse especialista não é o "colosso da idade dos porquês". É um tipo, igual aos outros tipos, apenas com maior acumulação de experiência numa área. Com uma diferença, nessa área, tenha ele a preparação científica e a experiência prática, dificilmente a sua margem de erro não será muito menor do que a do "não especialista".
Pedro? Quantas moedas de D. Duarte já olhaste em pormenor? Quantas letras já observaste por 5 ou dez minutos seguidos, quantas outras comparaste, até os olhos doerem? Quantos livros leste sobre essa numária? Quantos documentos não interpretados até aqui encontraste? Quanto esgravataste por todo o sitio à procura de imagens de exemplares específicos? Quantas horas perdeste a ler sobre e a ver moedas de D. Duarte?
Duvido que em Portugal alguém perceba tão bem essas moedas como tu... Porque as horas, os dias e os anos que lhe dedicaste, foram demasiados...
E isto traz-te competências em questões estilísticas... inegáveis. E o teu trabalho, que sei estar muito avançado, certamente o provará a quem o ler.
Se podes falhar? Claro que podes. Mas com um grau de probabilidade muito menor que outra pessoa que tenha gasto muito menos horas no assunto que tu...
Está história de se atacar o carácter, não faz sentido nenhum, e andaram todos nisso, desculpem que vos diga... e se calhar é natural, porque os ânimos se exaltam e todos temos emoções. Não interessa perceber quem fez primeiro ou quem fez depois. Quem tinha a intenção X e quem tinha a intenção Y... Mas devia ser contido...
No tópico de Afonso IV eu sou dos que não consegue tirar conclusões. O estilo do "P", com aquele redondo unido à haste da letra, é célebre em moedas falsificadas. Estou-me a lembrar de um pedro regente com esse "P". Por outro lado, a moeda tem um aspecto muito bom ao nível do metal, e a foto tinha boa qualidade. Não é das que dou como certamente más, mas não entrava na minha colecção. Foi um tópico que descambou porque se quis falar da credibilidade de quem falava, e houve quem não tenha querido sequer fazer nada para além disso, não esgrimindo qualquer argumento...
Quanto ao Leal, deram-no como falso: eu, o Pedro, o Mário, o Paulo, o Leandro, o Rui, o João, o VMA, o Monge... e muitos mais, que nem me lembro... E qual é a hipótese de esta gente toda ter falhado?
4 moedas com cunhos iguais. A história. Os chefes dos escudetes. As letras.
Bem, dei a minha opinião. Não preciso de a ver em mão. Vi em mão um dos clones. Tinha tão bom ar Ivo. Não fosse a capazita brilhante. Mas tinha tão bom ar, assim vista de um modo geral. E depois coloco uma questão. De retórica, só. Essa que vi, do mesmo cunho, tinha a zona dos escudetes perfeita! Todo o tracado perfeito. Como podia ser clonada da do Matos? Que tem aquela racha e aquela "dupla batida" no reverso?
Esta questão para mim, infelizmente, arruína em definitivo a hipótese de as outras serem o clone.
Quanto à colecção do Matos, digo o que sempre disse. Tem verdadeiros tesouros. Se tivesse dinheiro pegava em quase todas. Admito que as falsas, na proporção do total, sejam residuais... mas, entre falsificadas, muito duvidosas e duvidosas, conto umas 10, 15...
Bem, já estou a escrever há tempo demasido. Já lá vai um bom bocado. Espero quea extensão do texto vos dê para adormecer e se marimbarem neste tópico. Já só se perde tempo nisto. Ponham as fotos das moedas cá fora. Mostrem-nas. Vamos discutí-las, com argumentos. Vamos estudá-las todas o máximo que conseguirmos. Outro caminho é só tonto e não traz benefícios a ninguém. Abraço a todos!