Para que uma moeda seja considerada rara e, eventualmente, para que tal influencie sobremaneira no seu valor de mercado, não basta que sua cunhagem tenha sido baixa ou que existam poucos exemplares oferecidos aos colecionadores e investidores. O que conta realmente é o conjunto de variáveis em que um determinado exemplar se insere. Assim, uma moeda considerada comum pode atingir valores notáveis, caso seu estado de conservação, por exemplo, seja único; como aconteceu recentemente com um exemplar do 2.000 réis de prata (estrelas soltas - foto a seguir) PROOF - uma moeda relativamente comum - vendida em um leilão nos EUA por uma cifra que superou os US$ 9.000,00 (nove mil dólares). Moeda comum, em incomum estado de conservação, o que foi suficiente para que lhe fosse atribuído um valor de mercado alto.
Por que ? Porque o estado de cunhagem em que se encontra (PROOF) faz com que esse exemplar seja ÚNICO.

A lei da oferta e da procura, certamente é um dos fatores que mais influenciam os preços das mercadorias em geral, principalmente quando estamos tratando com bens preciosos. Mas não só isso! Porém é fato que uma oferta grande tem relação inversa com o preço. Em outras palavras, quanto mais oferta, menos procura e, consequentemente, um ajuste de preço "para baixo" é necessário para que o mercado possa fluir.
Com relação aos dobrões de D. João V, por exemplo, até há algum tempo estas moedas não apareciam com frequência no mercado. O comprador que pretendesse adquiri-las, deveria consultar várias casas numismáticas e aguardar por um bom tempo até que um único exemplar lhe fosse apresentado. De uns três anos para cá, essa situação mudou consideravelmente, com centenas de exemplares sendo oferecidos em leilões internacionais, fazendo com que a cotação dos dobrões (20.000 réis de D. João V) experimentasse uma notável queda em relação aos preços praticados em anos anteriores.
Até mesmo o exemplar de data 1724 (foto a seguir), antes considerado raríssimo, somente no ano de 2010, compareceu em 5 leilões distintos, entre os EUA, Suiça e Portugal, tendo sido oferecidos mais de 8 exemplares dessa moeda que, se antes era considerada da mais alta raridade, hoje faz fadiga em conseguir um R3, sendo melhor classificada em R2, no contexto de uma avaliação que vai de CC (muito comum) a R5 (da mais alta raridade) .

O leitor deve estar atento a esta lógica de mercado que não é diferente daquela praticada comercialmente com qualquer produto, principalmente quando diz respeito aos bens preciosos. Certamente, os exemplares FDC terão sempre seu posto assegurado, com um valor distanciado de suas “irmãs” em estado de conservação inferior. Mesmo assim, convém salientar que, se há alguns anos, um exemplar do dobrão de 1724 qFDC (quase flor de cunho) poderia tranquilamente atingir a cifra dos US$ 45.000,000 ou mesmo US$ 50.000,00 em um leilão de prestígio internacional, hoje mal consegue atingir a cifra dos US$ 30.000,000 (€ 14.000,00), fazendo algum esforço para ultrapassar essa barreira. Notável também o fato de que, no passado, o dólar estava muito mais bem cotado, portando o preço do exemplar à paridade com sua cotação em euros.
Um outro claro exemplo, refere-se ao 960 réis 1832 R, FDC que vem experimentando uma queda vertiginosa em sua avaliação, justamente devido à grande quantidade dessas moedas que tem aparecido ultimamente no mercado.

Figura: 960 réis 1832 R, em estado de conservação FDCE (flor de cunho excepcional). A descoberta de um lote de mais de 32 destas moedas e a consequente frequência com que tem aparecido no mercado, oferecida por comerciantes e em leilões internacionais, contribuiu para que o preço dessa moeda caísse dos 10.000 dólares praticados inicialmente para 4.500 dólares (pouco mais de 3.000 euros), mesmo com a baixa cotação da moeda americana.