Introdução à numária do Império Bizantino MOEDAS BIZANTINAS

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doliveirarod
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Introdução à numária do Império Bizantino MOEDAS BIZANTINAS

#1 Mensagem por doliveirarod » domingo jan 16, 2011 6:03 am

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A numária bizantina é para muitos colecionadores uma "ilustre desconhecida", pois de fato, os quase mil anos de historia desse império, com suas constantes crises econômicas e recuperações, até sua extinção final, provocaram na coleção bizantina uma variedade de valores de certa forma grande, e às vezes até confuso, com as constantes desvalorizações e trocas monetárias. Aqui fica um texto que busca ajudar a compreensão dessa numária, evidentemente sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, mas sim de servir de base para aqueles que queiram adentrar mais nessa matéria.


BREVE ESCORÇO HISTÓRICO.

Como os altos e baixos do Império sempre se refletiam no meio circulante, faz-se mesmo necessária uma explanação básica sobre a história bizantina, apenas nos principais aspectos, para que se tenha uma visão mais alargada do panorama numismático.

- A "gênese" do Império Bizantino ocorreu ainda em 330, no reinado de Constantino I, o Grande. Por motivos estratégicos, o imperador resolveu transferir a sede do Império Romano de Roma para a cidade grega de Bizâncio (daí a origem do nome "Império Bizantino"), até então um centro sem grande expressão (essa cidade tinha cunhagem própria no período anterior à conquista romana). A idéia era deixar a capital mais próxima às rotas comerciais lucrativas (e sempre ameaçadas pelos persas) que interligavam o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro, além da Europa à Ásia.

Assim, surge encima da Bizâncio grega a nova capital romana, batizada de "Constantinopla", em homenagem ao seu fundador. Logo torna-se a principal cidade do mundo de então. A proximidade com o mundo grego orientaliza a nova sede do império, que se distancia bastante de suas origens culturais. Surge então o grande império "greco-romano", uma bela fusão das maiores civilizações então existentes (embora os habitantes do leste denominassem a si mesmos como "romanos", e os imperadores latinos tentassem conter o "helenismo", mantendo o latim como idioma).

Enquanto a parte ocidental do império começava a ruir, enfraquecida pela perda de importância estratégica e pelas invasões bárbaras cada vez mais constantes e difíceis de serem contidas, a parte oriental mantinha-se em certa estabilidade, o que permitia o desenvolvimento do comércio e, portanto, do crescimento.

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(divisão em Império Romano do Oriente e Império Romano do Ocidente)

O "nascimento" do império greco-romano, de uma maneira "oficial" ocorre sob Teodósio (379/457), que ao morrer, deixa o território romano dividido em duas metades, cada um com sua sede administrativa (Roma e Constantinopla) para seus dois filhos, os débeis imperadores (ao contrário do pai) Honório (Ocidente) e Arcádio (Oriente). Os visigodos pressionados pelos hunos sob Átila, começam a romper as fronteiras da parte Oriental, e para tentar pacificá-los, Arcádio tolera a presença deles dentro de seus domínios. Logo os visigodos começariam a se dirigir para o Ocidente, governado pelo fraco Honório, e iniciam a invasão da Itália. Em 476, depois de grande agonia, finalmente cai de vez a parte ocidental, quando o último imperador romano é deposto por Odoacro (um hérulo, povo originário de terras que hoje são da Alemanha), o primeiro bárbaro a assumir o trono de Roma. O que resta de "Roma" agora está à leste, com sede em Constantinopla.

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(Sob Justiniano I, o Império Bizantino consegue sua máxima expansão, após, começarão as crises e as constantes perdas territoriais)

Justiniano I dá início à reconquista e à dinastia Justininiana. O imperador considerava-se "porta voz de Deus" e buscava expandir o cristianismo, ao mesmo tempo que almejava a recuperação da grandeza romana do antigo império perdido para os bárbaros. Estabelece acordo com os persas, pagando tributos, e assim, volta-se para o ocidente. Em 554, derrota os ostrogodos e retoma a Peninsula Itálica. O exército bizantino torna-se uma "máquina de conquistas", e expande o Império cada vez mais para o oeste, quase que retomando a grandeza territorial do antigo Império Romano.
Justiniano é considerado por muitos o "último grande imperador". Construiu diversas estradas e pontes, equipou o exército e criou uma legislação que serviria de base para todos os códigos ocidentais posteriores (até hoje). Sob seu reinado é construída a famosa Basílica de Santa Sofia.

Após o fim da dinastia Justiniana, o Império segue em linha descendente quase sempre, passando pela dinastia Heracliana (610-711), quando o primeiro imperador, Heraclius, consegue brilhantemente reverter uma guerra praticamente perdida contra os persas, que iriam derrubar Constantinopla. O valente Heráclio (creio que esse foi sim, o "último grande romano") empurra os persas de volta, depõe o "rei dos reis" e obriga-os a um tratado de paz. O imperador toma para sí o título de "rei dos reis" e adota o grego como lingua oficial do império.

Em seguida sucedem-se a Dinastia Isáurica, a Fócida, a Amoriana, a Macedônica (com Basílio I), a Comneno, a dos Ducas, novamente os Comneno (do brilhante Manuel I, que conseguiu segurar a derrocada bizantina com brilhantes vitórias, dando uma boa sobrevida ao império) e a dos Angelos. Fácil verificar uma grande instabilidade política, que certamente se refletia na economia e na amoedagem. Seguem os greco-romanos seu destino decadente, sempre as voltas com ataques dos bárbaros no Ocidente e a constante e gravíssima ameaça dos islâmicos, a grande potência que se delineava naquele tempo, e que cada vez mais iam espoliando as províncias romanas.

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(Quadro após a invasão da Quarta Cruzada)

Em 1203, a Quarta Cruzada do Ocidente, com rumo ao Egito, decide desviar a rota e ir para Constantinopla. Incitaram a derrubada de Aleixo III e a substituição deste pelo seu sobrinho, Aleixo. Combates se seguem, os cruzados tomam a capital e nomeiam Aleixo. Ocorre então uma grande fragmentação. A população revolta-se, nomeia imperador Aleixo V, que combate bem, mas não vence os latinos. Após Aleixo V, que morreu atraiçoado e cegado, o império sofre uma profunda cisão, surgem os Estados Cruzados e os Estados Sucessores de Bizâncio.


CRUZADOS

- Império Latino - 1204/1261
- Reino de Tessalónica - 1205/1224
- Marquesado de Bodonitsa - 1204/1414
- Principado da Acaia - 1205/1432
- Senhorio de Argos e Nauplia - 1205/1388
- Ducado de Atenas - 1205/1458
- Ducado de Naxos - 1207/1579
- Ducado de Filipópolis - 1204/1261
- Senhorio de Negroponte - 1204/470

Sucessores Diretos dos Bizantinos

- Império de Niceia - 1204-1261 (o maior e mais poderoso dentre os sucessores)
- Império de Trebizonda - 1204/1461
- Despotado do Épiro - 1205/1479


Os reflexos dessa "anarquia" se refletem muito na numária. Teremos aí cada Estado com suas próprias emissões. É desse período que surgem as emissões dos Estados Cruzados que conhecemos (muitos "deniers" de bolhão). As emissões dos cruzadas não são consideradas, a rigor, parte da numária bizantina, pois essa, durante tal período, consiste nas emissões dos Estados sucessores.

A dinastia dos Paleólogos surgiu no Estado de Nicéia. Tentava reunificar o império, livrar-se dos Estados Cruzados e tornar Bizâncio mais uma vez um grande centro. Entretanto, enfrentava problemas constantes com os bulgaros e os sérvios, além dos turcos do Sultanato do Rum, sempre prontos a atacar e obter vantagens territoriais e econômicas. Em resumo, após a derrocada causada pela invasão da quarta cruzada, os greco-romanos não se recuperariam, pois estavam militarmente e economicamente enfraquecidos demais.

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(Quadro por volta de 1400 até a derrocada final)

A situação dos bizantinos era desesperadora. Tentou-se várias alianças com os Papas e países do Ocidente, sem sucesso efetivo, os greco-romanos estavam à sua própria sorte para enfrentar agora o Império Otomano em franca expansão. Em 1451, assume o trono dos turcos Maomé II, que tratou de costurar alianças com prováveis aliados de Constantinopla, pois tinha a declarada ambição de tomar a cidade.
Em 1452, Maomé II inicia o ataque, estando os bizantinos isolados para enfrentar um embargo naval e uma poderosíssima artilharia, na qual foi empregado o maior canhão do mundo de então, projetado por um veneziano para o sultão turco. Essa arma iria abrir as brechas nas muralhas que durante séculos tinham impedido o avanço dos invasores da Ásia Menor. Assim, em 1453, a cidade cai sob o domínio dos otomanos, e o último imperador greco-romano, Constantino XI, o último da dinastia dos Paleólogos, morre lutando junto os defensores da cidade. Em 1460, Maomé II toma o último reduto dos gregos, o Estado de Trebizonda, extinguindo de uma vez o império romano.

A NUMÁRIA

Pela breve análise histórica, não é dificil depreender que a coleção bizantina terá alguns aspectos meio confusos no que diz respeito à ligas, pesagens e sistemas, mas é questão de ir se familiarizando com ela e entendendo as emissões em conjunto com a evolução dos acontecimentos.

1.0 - Surgimento: Reforma de Anastácio I - O sistema em cobre. O Sistema romano ainda vigente e novas moedas.

O fim da numária romana de cobre no baixo império do Oriente, marcando assim o início das cunhagens bizantinas propriamente ditas, ocorre no reinado de Anastacio I, em Bizâncio, na data de 498. Os bustos tradicionais de perfil, dão o lugar principal aos bustos frontais. O follis é fixado como a unidade básica de cobre, e é subdividido em 40 "nummi". O antigo solidus de ouro e suas fracionárias, criado por Constantino, mantem-se aqui com seu peso e pureza, que irá perdurar até o século X. Nesse período temos destacadas as oficinas monetárias de Cízicus, Cartago, Catânia, Constantinopla (a principal), Antióquia (uma das maiores), Tessalonika (muito importante), Nicomédia, Roma, Ravena e Siracusa. Com o imperador Heraclius, há a transição do latim para o grego na legenda das moedas. Destacam-se o grande módulo dos follis, e a beleza das gravuras imperiais, principalmente sob justiniano.

Vamos então a uma pequena tabela com equiparação desses valores:


SOLIDUS (OURO) = 2 SEMISSIS = 3 TREMISSIS = 12 MILIARENSIS = 24 SILIQUAS = 180 FOLLIS = 1.200 NUMMUS
SEMISSI (OURO) = 1 1/2 TREMISSIS = 6 MILIARENSIS = 12 SILIQUAS = 90 FOLLIS = 3.600 NUMMUS
TREMISSIS (OURO) = 4 MILIARENSIS = 8 SILIQUAS = 60 FOLLIS = 2.400 NUMMUS
MILIARENSIS (PRATA) = 2 SILIQUAS = 15 FOLLIS = 600 NUMMUS
SILIQUA (PRATA) 7 1/2 FOLLIS = 300 NUMMUS
FOLLIS (COBRE) = 40 NUMMUS


Vamos às peças e algo sobre suas descrições:

- FOLLIS: Unidade padrão em cobre, valia 40 nummus, subdvidindo-se em 5, 10 e 20 nummus, basicamente (havendo algumas outras subdivisões menos comuns). A palavra "follis" vem do grego "phollis" que significava "saco" ou "bolsa selada", item de couro largamente utilizado pelos soldados para guardar suas moedas. A unidade foi criada ainda nos tempos do império romano, sob Diocleciano, possuindo naquela ocasião uma camada de prata e cerca de 10 gramas de peso. Com o tempo perdeu peso e o banho prateado, devido à desvalorização, pois a reforma empreendida por Diocleciano fracassou. A moeda foi substituída pelo centenionalis, sob Constantino I, mas com a desvalorização deste e a mencionada reforma de Anastácio I, voltou o follis com força e bom módulo, sendo cunhado em cobre puro, sem nenhuma prata.
Era identificado no reverso pela letra "M" ou pelo seu valor em "nummus", qual seja, XXXX.
A moeda perdurou até o final do séc. XI, quando foi extinta pela reforma do imperador Aleixo.

exemplar 1:
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(letra "M" no reverso - 12,4 gramas)

exemplar 2: (imagem retirada da internet):
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("XXXX" no reverso, indicando o valor de 40 nummus - 10.5 gramas)

Exemplar 3 : (imagem retirada da internet)
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(follis anonimo* sem as tradicionais inscrições - 9 gramas).

*Os follis anônimos surgiram com João I, 969/979, não traziam a indicação do imperador que os emitia, apenas a imagem de Cristo "pantocrator" (O todo poderoso). Costumam ser classificads por classes nos catálogos.

- 2/3 DE FOLLIS: Três desses cobre equivaliam a dois follis. Eram geralmente indicados pelo seu valor em nummus, "XXX" (30 nummus), mas também pela letra grega "Λ".

Exemplo: (Imagem retirada da internet)

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(XXX nummi ou 2/3 de Follis - 11, 7 gramas)

-1/2 FOLLIS: Duas dessas moedas valiam um follis. Na maioria eram indicadas pela letra grega "K", mas podiam ser discriminadas também pelo valor em algarismos romanos relativo ao seu valor em nummus, "XX".

exemplo 1: (foto retirada da internet)

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(1/2 follis com a indicação em algarismos romanos XX, valor em nummus - 3,8 gramas)

exemplo 2: (foto retirada da internet)

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(meio follis, identificado pela letra grega "K" - 4,9 gramas)

Exemplo 3: (foto retirada da internet)

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(meio follis, identificado pela letra grega "K" - 5,5 gramas)


-DODECANUMMIUM (12 nummus) - Peça divisionária criada um pouco posteriormente à reforma de Anastácio I, no ano de 552, no valor de 12 nummus. Essas moedas só foram batidas na casa de Alexandria (ALE, AL, ALEX, SMAL). Reconhecidas pelo "I B" no reverso.

exemplo 1: (Imagem retirada da internet)

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(dodecanummium - 12 nummus - 5,2 gramas de cobre - "I B")

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(dodecanummium - 12 nummus - 5,5 gramas - "I B"

-DECANUMMIUM (10 nummus): Cobre valorado em 1/4 de follis. Era indicado pela letra grega "I", ou pelo algarismo latino "X", indicando seu valor em nummus. Interessante ressaltar que, devido às constantes desvalorizações, no século VIII, esse e os demais divisores do follis estariam quase que desaparecidos, restando mesmo apenas o follis em circulação na prática.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(decanummium indicado pela letra grega "I" - 2,0 gramas)

Exemplo 2: (foto retirada da internet)

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(decanummium indicado pelo numeral romano "X", indicando 10 nummus ou 1/4 de follis - 4,3 gramas)


- PENTANUMMIUM (5 nummus): pequeno cobre equivalente a 5 nummus, ou 1/8 de follis. Era representado pela letra grega "Є" ou pelo algarismo romano "V" (5 nummus). Com as crises do séc. VIII foi um dos divisores do follis que virtalmente desapareceu, engolido pela inflação.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(pentanummia indicada pela letra grega "Є", 1/8 de follis - 2.8 gramas)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(pentanummia indicada pela letra grega "Є", 1/8 de follis - 1.8 gramas)

exemplo 3: (imagem retirada da internet)

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(pentanummia aqui indicada pela letra "U", 1/8 de follis - 1.3 gramas

-NUMMUS (plural em grego: Nummia): A palavra vem do grego "noummia", que que dizer literalmente "pequeno", significado que bem se encaixa nesse cobre. Os romanos já usavam esse termo "nummus" para denominar pequenos bronzes, ou mesmo "dinheiro em geral". Foi utilizadíssimo como unidade de conta no Império Bizantino. As unidades eram teoricamente identificadas pela letra grega "A" ou pela romana "I", indicando 1 unidade. Devido ao baixo valor de 1 única unidade dessa moeda, não teve uma grande cunhagem.

exemplo: (foto retirada da internet)

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(nummus - 0,7 grama)

exemplo 2: (foto retirada da internet)

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(16 nummus - 6,7 gramas)

Ante o supra exposto, fica aqui uma tabela mostrando os valores dos cobres e suas identificações básicas:

DENOMINAÇÃO________________ VALOR EM NUMMUS_______IDENTIFICAÇÃO EM GREGO____IDENTIFICAÇÃO LATINA (Algarismos romanos indicando valor em nummus)

FOLLIS__________________________40 ___________________letra "M"____________________XXXX
2/3 DE FOLLIS____________________30 ___________________letra "Λ"_____________________XXX
1/2 FOLLIS_______________________20 ___________________letra "K"______________________XX
1/4 FOLLIS (decanummia)___________10___________________letra "X"_______________________X
1/8 FOLLIS (pentanummia)___________5 ___________________letra "Є"_______________________V
NUMMUS_________________________1___________________letra "A"_______________________I


1.2 - O Sistema em Prata:
A cunhagem em prata nesses períodos não era muito expressiva, pois a maioria das emissões se dava em ouro e em cobre. Assim, as peças em prata costumam ser mais raras que as de ouro e muito mais raras que as de cobre.

- SILIQUA: Não é uma moeda propriamente "bizantina", pois foi criada nos tempos do Império Romano, ainda pela reforma de Constantino, o Grande. Entretanto, manteve-se por algum tempo entre a númaria bizantina, mesmo após a queda do Ocidente. A palavra em grego era "keration", que era uma antiga medida de peso grega, equivalente a 0,189 grama, era o peso aproximado de uma semente de feijão de alfarroba. Dessa medida se extraiu o "quilate" (keration), usado para medição da pureza dos metais preciosos. Até hoje verificamos os quilates com base nessa antiga medida baseada num caroço de feijão (0,2 gramas)!
Quando instituída por Constantino, a siliqua equivalia a 1/24 de solidus de ouro. Dessa maneira, observamos que um solidus de ouro deveria ter 24 quilates de ouro puro (24 siliquas) em peso, ou seja: 4,536 gramas.
Originariamente, a siliqua romana foi criada para pesar cerca de 3,4 gramas de prata de boa liga, tal como o fracassado "argenteus" de prata da reforma de Diocleciano (que por sua vez, equivalia a um denário dos tempos de Nero). Entretanto, logo após o reinado de Constantino, já no período de seus herdeiros, a siliqua já se desvalorizava, sendo batida 2,25 gramas, e continuou se desvalorizando na pesagem com o passar do tempo (até surgir a "siliqua leve").
Nos primeiros séculos bizantinos, a siliqua continuou valendo, apenas em tese, 1/24 de um solidus (300 nummus, portanto). Mas na prática isso geralmente não se observava. Foram cunhadas moedas divisionárias, no valor de 1/2, 1/3, 1/4 e até 1/8 de siliqua, identificadas por algarismos gregos, mas são realmente muito raras tais frações.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(siliqua "cerimonial" de Mauricio Tibério - 1,9 gramas)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(fração de 1/2 siliqua, justiniano I, cerca de o,5 gramas, uma "siliqua leve")


-MILIARENSIS: O miliarensis ou "miliarense" também não é uma moeda de prata puramente bizantina, pois assim como a siliqua, nasceu da reforma monetária empreendida por Constantino I. Entretanto, perdurou durante os primeiros reinados bizantinos, mesmo após a queda do Ocidente, e foi batida inclusive por Justiniano I, por ocasião de suas conquistas e expansões territoriais visando remontar a grandeza de Roma. Equivalia a 1/1.000 milésima de libra de ouro, daí a origem desse nome. Possuia cerca de 4,5 gramas de boa prata, valendo portanto 2 siliquas ou 1/12 de um solidus de ouro. Consta existirem multiplos dessa moeda, mas são mesmo raríssimos.
Durante o império bizantino ele foi se desvalorizando, até que chegou na "miliarense leve", que pesava apenas 3,3 gramas.

exemplo: (imagem retirada da internet)

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(miliarense de Justiniano I - 4,5 gramas)


-HEXAGRAMMA: Palavra que deriva do grego "exagrama", tinha um peso teórico de 6 "escrúpulos" (6,8) gramas, mas na prática era batida geralmente com não mais do que 6,5 gramas. Equivalia a um "duplo miliarense", moeda aliás já escassa naqueles tempos. Foi criado no reinado de Heráclius (610/641), durante a guerra contra os persas que quase foi o fim do Império Bizantino. Para tentar melhorar a crise econômica desesperadora decorrente da guerra, Heraclio manda bater uma moeda de prata de boa liga, e essa peça tem a inscrição "DEVS ADIVTA ROMANIS", ou "que Deus ajude os romanos" de um lado, e do outro o imperador e seu filho Constantino. A moeda reflete a calamidade da situação, era como uma "oração circulante". De fato, veio a ajudar algo a economia. A peça teve vida curta, pois em 668/685, durante o reinado de Constantino IV, foram batidas as últimas.

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(Hexagrama de Heraclius, o primeiro tipo a ser cunhado - 6,7 gramas)


-MILIARESION: Apesar da semelhança do nome, não se confunde com o "Miliarense" antigo. Foi criada no reinado de Leon III (717-741), em mais uma tentativa de suprir o meio circulante com uma moeda de prata de boa liga. Tinha aproximadamente 2.0 gramas de peso quando criada, e perdurou até a reforma de Aleixo I. O nome é grego, miliaresion significava que mil dessas peças de prata equivaleriam em tese a uma antiga medida de libra de ouro, mas na prática valeria algo menos. Existiram divisionárias dela, mas são raríssimas, e também algo cunhado em bolhão, o que seria de se esperar em uma situação de crises constantes.
Embora tenha sido extinta no século XI, com a mencionada reforma, continuou servindo como moeda de conta.

Exemplo 1:

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(miliaresion de Constantino e Irene - 2,2 gramas)

Exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(miliaresion de Constantino X - 1,7 gramas)


1.3 - O Sistema em Ouro: Até a reforma de Aleixo I, a unidade básica em ouro era o velho solidus do império romano e suas subdivisões. A cunhagem de ouro bizantina foi importantíssima e adquiriu grandes dimensões, eram peças aceitas no mundo inteiro, servindo como moeda comercial entre os Estados da época.
Em grego, a palavra solidus era "nomisma", que acabou virando a alcunha dessas moedas e das posteriores cunhagens de ouro bizantinas. Assim, ao estudo das ligas metálicas desses importantíssimos espécimes para o comércio de então, dava-se o nome de numismática (palavra que conhecemos tão bem). Com o tempo, após o desuso da palavra em relação aqueles que estudavam as antigas "Nomismas", a denominação passou a ser atribuida aos colecionadores e estudiosos das moedas em geral, ou seja: a aqueles que juntavam e estudavam moedas antigas!


-SOLIDUS: O solidus não era propriamente uma moeda bizantina, embora o padrão tenha sido largamente empregado por Bizâncio. Foi criado pela reforma de Constantino I, e tinha a "missão" de substituir o antiquíssimo áureo romano, moeda esta com peso teórico de 5,4 gramas. O solidus possuia originariamente 4,54 gramas de ouro (ligeiramente mais leve que o áureo), equivalendo assim a 1/72 de libra romana, ou 24 siliquas, pesando portanto "24 quilates" (vide siliqua), ou ainda se equipararia a 2.000 denários romanos ( que na época de Constantino não passavam de meras moedas de conta, já que se encontravam fisicamente extintos).
Trazia frequentemente no exergo (nem sempre) a indicação "OB", que significava "[b]OB[/b]ryciacus" ou "OBryzum", que queria dizer "ouro puro". Indicava também que, de uma libra de ouro puro o imperador extrairia 72 moedas de solidus, ou seja, valeria 1/72 de libra de ouro.
Antes do "OB" no exergo, identificaremos a casa de cunhagem do solidus. Assim, por exemplo, um solidus com a legenda "CONOB" (a mais comum) indica "COnstantinopla OBryzum" - "Casa de Constantinopla" e "ouro puro". Outro exemplo: "ROM(a) OB(ryzum)" - Casa de Roma - ouro puro.
Foi batido até os meados do século X (quando seria substituído pelo histamenon nomisma).
No século VI surgiu o solidus leve ou "ligeiro", com um peso inferior ao teórico original, possuindo em média 3,75 gramas (cerca de 20 "quilates" de peso). Esse solidus ligeiro geralmente tinha indicação de seu peso inferior, tal como "OBXX", que significava "ouro de peso 20 quilates". Esse tipo de solidus convivia com o de 24 quilates, o que os diferenciava era apenas a tal indicação "OBXX". Com Constante II (641), surge o solidus globular, que mantinha seu peso, mas possuia apenas 11mm de diâmetro, o que o deixava com um módulo bem grosso.

exemplo 1:

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(solidus de Heraclius - 4,5 gramas - insc. CON(stantinopla)OB(ryzum) no exergo)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(solidus de Focas contendo apenas os "20 quilates" ou "siliquas", indicado pela sigla "OB(ryzum)XX" no exergo)

Exemplo 3:
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(solidus de Focas com o peso normal de "24 quilates" - 4,4 gramas- CON(stantinopla) OB(ryzum) no exergo)

Exemplo 4: (imagem retirada da internet)

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(solidus de Leon I - THS(essalonika) OB(ryzum) )

Exemplo 5: (imagem retirada da internet)

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(um dos primeiros solidus, do imperador Constantino I. Esse não traz a indicação "OB", no exergo, mas a tradicional "S(acra) M(moneta) AN(tioquia) )

Exemplo 6: (imagem retirada da internet)

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(solidus "globular" de Constante II - 4.4 gramas, 11mm de diâmetro )

Exemplo: (imagem retirada da internet)

-SEMISSIS: Era o meio (1/2) solidus, criado juntamente com a unidade principal, pela reforma de Constantino. O que se disse sobre o solidus pode ser aplicado ao Semissis, observada a medida da moeda. Valia então 12 "siliquas" (keration), possuindo um peso teórico de 2,27 gramas. Encerrou sua existência na reforma de Aleixo I, quando já existiam exemplares cunhados em electrum (bem raros).

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(semissis com cerca de 2,2 gramas de ouro)

-TREMISSIS: Era o terço de solidus (1/3), também nascido com ele como peça divisionária. Valia então 6 "siliquas", com peso teórico de 1,5 grama de ouro. Também foi extinto na reforma de Aleixo I. Interessante observar que essa moeda foi amplamente copiada pelos povos bárbaros, sobretudo os visigodos, de tal forma que seu padrão veio a ser a "base" da numária do reino visigótico quando da sua criação, na forma dos "trientes" ou "triens" de ouro.

exemplo: (imagem retirada da internet)

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(tremissis - 1,46 gramas)


-HISTAMENON NOMISMA: Surgiram para substituir o solidus, durante o reinado de Nicéforo II (963/969), perdurando por quase um século, e sendo extintas pela reforma de Aleixo I (1092). Seu nome significava "peso justo" ou "peso certo". Elas eram ligeiramente mais leves que os velhos solidus, pesando cerca de 4,3/4,4 gramas ( peso inferior que, numa cunhagem de milhões de exemplares, daria algum lucro para o governo). Com o tempo a liga começa a perder ouro e ganhar prata, e elas vão se tornando de electrum de liga rica em ouro. Esse tipo de cunhagem tinha o diâmetro bem alargado, assim o módulo ficava bem fininho, de modo que quando levavam a batida do troquel, ficavam côncavas. Dessa forma, começam a surgir as "escifuladas", na sua forma côncavo-convexa. Os histamenons foram as primeiras moedas escifuladas (antes mesmo da criação da série dos "trachy" pela reforma de Aleixo I), embora nem todos os exemplares saissem nesse formato. Antes de serem definitivamente extintas, surgiram alguns exemplares desvalorizados, em electrum e também em prata, mas são muito raros.

exemplo 1:

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(histamenon nomisma não escifulado, 1025 - ouro, 4,3 gramas de peso)

exemplo 2:

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(histamenon nomisma em sua forma escifulada, 1078-1081 - electrum com liga rica em ouro, 4,3 gramas)

exemplo 3: (retirado da internet)

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(histamenon nomisma desvalorizado, em prata - 3,1 gramas)

-TETARTERON NOMISMA: Foi a outra moeda de ouro introduzida por Nicéforo II juntamente com o Histamenon nomisma. Assim como nos tempos do solidus existia o "solidus ligeiro" (o tal "OBXX"), durante a circulação do histamenon também havia a sua versão "ligeira", tratava-se do "tetarteron nomisma". Essa moeda de ouro que corria juntamente com o histamenon tinha um peso inferior a este, cerca de apenas 4 gramas. O próprio nome "tetarteron" significava "menor peso", pois tinha 1/12 avos a menos que o histamenon nomisma. Também foi extinto na reforma de Aleixo I. São moedas bastante escassas.

Exemplo: (imagem retirada da internet)

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(tetarteron nomisma - 4 gramas)


2.0 - A Reforma de Aleixo I: O imperador Aleixo I, da dinastia dos Comnenus, foi o responsável pela mais ampla reforma efetuada no sistema bizantino. Ele criou o famoso padrão "aspron trachy", o das moedas escifuladas (côncavo-convexas), que acabaram sendo cunhadas em todos os metais: cobre, prata (muito raras), bolhão, electrum e ouro, perdurando durante todo o século XII (sofrendo desvalorizações nas ligas). O sistema entra em desuso quando da invasão de Bizâncio pela 4ª Cruzada em 1204, visto a anarquia econômica decorrente. Entretanto, o império de Nicéia, o mais forte entre os herdeiros de Bizâncio, continua batendo moedas nesse padrão. Com a reforma de Aleixo, cria-se uma numária puramente bizantina, acabando-se com qualquer vestígio do antigo sistema do império romano, aqui, todas as nomeclaturas são gregas. A nova unidade de ouro do império é o Hyperpyron Nomisma, que substitui o Histamenon Nomisma criado por Nicéforo II.

2.1 O novo sistema em ouro, electrum e bolhão.

HYPERPYRON NOMISMA (TRACHY): É a unidade básica de ouro, criada pela reforma de Aleixo I. O nome em grego "yperpyron" significava "purificado pelo fogo". Era uma moeda de boa liga, possuindo 21 "siliquas" ("quilates" de peso) de ouro puro, pesando cerca de 4,5 gramas. Ficou no lugar do Histamenon Nomisma. Tinha sempre a característica escifulada típica da série "trachy", da qual era o "topo". Perdurou por quase trezentos anos após a sua criação, sendo extinta apenas no reinado de João V, entre 1347/53 (quando devido à decadência geral, o padrão ouro é abandonado, e surge o monometalismo baseado na prata).
Um hyperpyron trachy de ouro equivalia, originariamente, a 3 aspron trachy de electrum ou 48 aspron trachy de bolhão. Entretanto, devemos lembrar que isso foi quando da criação desse sistema, pois o electrum e o bolhão, com o passar do tempo, tornam-se cada vez mais defasados na liga.
Durante o reinado da dinastia dos Paleólogos (dinastia originária do império de Niceia) encontraremos Hyperpyrons de baixa qualidade artística, e as vezes pesando algo menos que meras 3 gramas.

exemplo 1:

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(hyperpyron de ouro - 4,1 gramas)

exemplo 2:

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(hyperpyron do império de Niceia - 4,2 gramas)

exemplo 3: (imagem retirada da internet)

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(hyperpyron da disnastia dos Paleologos, gravação degenerada e apenas 2,9 gramas de ouro)

-ASPRON TRACHY DE ELECTRUM: Moeda divisionária do Hyperpyron Trachy Nomisma, criada pela reforma de Aleixo I. Originariamente 3 moedas de electrum (liga de ouro e prata) equivaleriam a 1 hyperpyron nomisma. Com o passar do tempo, a liga vai empobrecendo cada vez mais na percentagem de ouro.

exemplo 1:

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(aspron trachy de electrum, nesse exemplo se destaca mais a prata - 3,6 gramas.)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(aspron trachy de electrum, onde predomina mais o ouro na liga - 4,4 gramas)

exemplo 3:
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(aspron trachy de electrum do Império de Nicéia - 3, 7 gramas, predominando a prata na liga)

-ASPRON TRACHY DE BOLHÃO: Também mais uma peça da série dos "trachy" (ou "trachea") criada por Aleixo I como divisionária do Hyperpyron trachy. Inicialmente 48 aspron trachy de bolhão valiam 1 hyperpyron, 16 deles valiam um aspron trachy de electrum. Entretanto lembremos que isso logo quando da criação, pois com o decorrer do tempo, a liga de bolhão foi perdendo cada vez mais prata, chegando a menos de 5% desse metal na composição, o que equivalia a um "banho" muito tênue. Boa parte das peças de bolhão baixo que encontramos hoje não possuem mais nenhum prateado, pois na maioria dos casos nada restou senão o cobre.

exemplo 1:

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(aspron trachy de bolhão rico - 3,4 gramas)

exemplo 2:
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(aspron trachy de bolhão muito baixo, menos de 5%, na parte central da peça ainda se vê vestígios do prateado original - 3,9 gramas)

exemplo 3: (imagem retirada da internet)
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(aspron trachy de bolhão baixo com a cobertura de prata perdida, aspecto de cobre puro)

-ASPRON TRACHY DE PRATA: São os mais raros (e alcançam altas cotações). Peças cunhadas notadamente no período pós fragmentação do império (catástrofe de 1204), pelos Impérios sucessores, Trebizonda e Nicéia, que mantiveram parte do padrão Trachea. Também foram batidos depois da "restauração" bizantina, na dinastia dos Paleólogos, com o peso reduzido. A cunhagem principal foi em Nicéia, notadamente na casa de Magnésia, sob João III, que bateu bastante ouro, prata e algum cobre.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(aspron trachy de prata do Império de Nicéia - 2,8 gramas)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(aspron trachy de prata do Império de Trebizonda - 2,8 gramas)

exemplo 3: (imagem retirada da internet)

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(aspron trachy da dinastia dos paleólogos, "restauração do império", peso defasado e gravação degenerada - 1,4 grama)


2.2 O novo sistema em cobre.

Na reforma de Aleixo I a moeda de cobre teve pouca importância, o sistema "trachy" era fortemente baseado mesmo no bolhão (quase cobre) e ouro. Porém, foi criado o Tetarteron de cobre. Esse numisma era a única peça não escifulada da reforma de Aleixo.

-TETARTERON: Moeda que tinha um peso estimado entre 2 e 5 gramas. O nome "tetarteron" deste cobre foi inspirado na moeda de ouro "tetarteron nomisma", também criada pela reforma de 1092, isso devido à semelhança de peso e diâmetro entre essas moedas. O tetarteron de cobre circulou até o governo de Andrônico II (1282 - 1328), imperador que o substituiu por outra moeda de cobre denominada assarion. Existiram frações, como o 1/2 tetarteron.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(tetarteron de cobre - 5,2 gramas)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(tetarteron de cobre - 3,7 gramas)

exemplo 3: (imagem retirada da internet)

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(tetarteron de cobre - 3.1 gramas)

exemplo 4 (imagem retirada da internet)

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(1/2 tetarteron de cobre - 1,9 grama)


3.0 - Da invasão pelos cruzados e o desmembramento do império em 1204 até o reinado de João V, em 1354: Tal como já visto anteriormente, em 1204, com o desmenbramento do império, o sistema aspron trachy entra em declínio, porém, continua sendo batido, com algumas modificações em relação ao original (por exemplo, o uso da prata de boa liga) pelos impérios sucessores, ou seja, Trebizonda e Nicéia. Assim, depois de 1204, teremos no antigo território de Bizâncio (agora todo retalhado) as emissões dos Estados Sucessores e as dos Estados Cruzados (estas últimas não são consideradas parte da numária bizantina, daí não serão abordadas). Nesse novo quadro, com as modificações políticas e evidentemente, econômicas, surgem novos espécimes monetários para suprir as necessidades de meio circulante. Vale ressaltar que junto às novas numismas criadas, continuavam circulando os aspron trachy de prata e ouro dos estados sucessores. Não foi criado nesse período mais nenhum tipo de cunhagem nova em ouro.

3.1 - O sistema em cobre:

-AE TRACHY: Com a decadência do sistema Trachea no período pós 1204 (invasão cruzada) surgem essas moedas também escifuladas, em puro cobre, sem mais nenhum traço de prata e de peso inferior, além do módulo reduzido (em muitas vezes "recortado"), é o Ae trachy cunhado em grandes quantidades, possuindo gravações "descuidadas", muitas sem legendas. Essas peças de baixo valor vão perdurar até a queda final de Constantinopla, mas no séc. XIII, no reinado de Andronico II, elas deixaram de ser fabricadas.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(Ae trachy escifulado - cobre - 1 grama)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(ae trachy escifulado - cobre - 1,3 gramas)

-ASSARION: Cobre que surgiu nos finais do século XIII, sob o governo de Andronico II (1295-1320). Esse cobre de baixo peso e de cunhagem um tanto rústica vem substituir o já desvalorizado tetarteron de cobre, e se tornou a moeda de cobre mais importante de seu período, a que mais corria. O assarion perdurou até a reforma monetária de João V (o monometalismo de 1354), quando foi substituída pelo follaro. O nome assarion deriva de uma antiga denominação de certa moeda de cobre colonial romana, do período do alto império, que circulava na região da Moésia, evidentemente esse tipos não se confundem, pois mais de 1000 anos separam um do outro.

exemplo 1: imagem retirada da internet

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(assarion - 2,2 gramas)


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(assarion - 1,7 gramas)

3.2 - O Sistema em bolhão: Durante esse período aqui tratado não teve grande importância na circulação, consiste basicamente no tornese, o "denier" bizantino.

- TORNESE (TORNÊS): Moeda de bolhão, surgida no reinado de Andronico II (1295-1320). Era denominada Tornês devido a obedecer o padrão "denier tournois", surgido na França e seguido por praticamente toda Europa (em Portugal, por exemplo, era o "dinheiro"). Assim, nada mais era que o "denier" ou "denario" bizantino. Circulou até a queda de Constantinopla. Moedas algo escassas.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(tornese de bolhão (andronico II) - 0,7 gramas)

3.3 - O Sistema em Prata: Surgiram mais dois novos tipos, um deles era quase que restrito ao Império de Trebizonda, o outro claramente inspirado nas moedas de "grosso" venezianas. Visto a ascenção comercial de Veneza e a decadência acentuada de Bizâncio, era necessário uma moeda de boa prata similar à que já estava aceita em circulação por quase toda a Europa (o grosso).

-ASPER: A palavra "asper" deriva do grego "aspron", que literalmente quer dizer "branco" (menção à boa liga), surgem no reinado de Manuel I (1238-1263). Era também conhecido como "trikephalon", embora tal denominação não seja tão utilizada atualmente para classificá-la quanto a de asper. Originariamente teria um peso teórico de 2,9 gramas, mas com o tempo apareceram exemplares pesando mera 1 grama. Eram de uma liga muito rica em prata, e podiam aparecer também na forma escifulada, um tanto menos comum que a forma plana. Moeda típica do Império de Trebizonda, e uma de suas características era ostentar no verso a imagem de S. EugÊnio, padroeiro de Trebizonda. Pelo peso e pureza ela era aceite em toda região, e chegou a ser imitada por alguns dos Estados vizinhos (o nome asper foi adotado pelos turcos para denominar uma antiga moeda de prata).

exemplo 1:

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(asper de prata - 2,5 gramas)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(asper de prata - 2.6 gramas)


-BASILIKON: Moeda introduzida também no reinado de Andronico II (1282/1328). A palavra "Basilikon" em grego siginifica "imperial". Essa moeda buscou reviver o velho miliaresion de prata, já extinto por esse tempo, e tal como este, possuía um peso teórico inicial de 2,00 gramas de prata de boa liga, valendo, em tese, 1/12 de hyperpyron de ouro. No séc. XIV, surge o basilikon reduzido e o 1/2 basilikon, este último valendo, em tese, 1/24 de hyperpyron de ouro.
O basilikon foi inspirado no modelo e na liga os famosos "grossus" de Veneza, que na idade média eram amplamente aceitos por toda Europa. Entretanto, as "grossas" italianas possuiam um estilo bem bizantino, com um santo abençando o Doge e o cristo entronado.

exemplo 1:

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(basilikon - 2,1 gramas)

exemplo 2: (foto retirada da internet)

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(basilikon - 1,8 gramas)

exemplo 3: (foto retirada da internet)

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(basilikon reduzido - 1,2 gramas)


4.0 - De João V, reforma de 1354, até a tomada final de Constantinopla pelos otomanos, em 1453: A última reforma no decadente sistema monetário bizantino foi feita sob João V, em 1354. Essa reforma foi realmente drástica, a cunhagem em ouro foi abolida de uma vez, pois o empobrecimento do império já era muito grande e o Estado já não podia suprir a demanda do metal. Ocorreu assim a adoção do monometalismo, onde toda a moeda circulante de bom valor era cunhada em prata, metal que se tornou a base da cunhagem bizantina de então. O cobre continuou a ser batido, mas era uma produção de menor importância. O ouro que circulava era o que se conseguia através do comércio com Veneza, e eram as famosas moedas de ouro de ducados venezianos que serviam para as transações comerciais de maior valor.


4.1 - O sistema em cobre: Nesse período a cunhagem de cobre não possuía mais a importância de outrora. As peças eram pequenas, e tinham uma fabricção tosca e descuidada.

FOLLARO: Surge no reinado de João V, e vem substituir o assarion, já desvalorizado. Teve circulação até os dias finais de Bizâncio. O nome deriva de "follium" "folha", como eram denominadas certas peças em circulação na Itália Normanda.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(follaro de cobre - 0,7 grama - cunhagem tosca e gravação degenerada)

4.2 - O sistema em bolhão: Na verdade não apresenta novidade em relação ao anterior, onde era cunhado o tornês. Apenas cunha-se um determinado tipo de mesmo padrão, só que com uma denominação diferente.

POLITIKON: Moeda de bolhão que aparece nos meados do século XIV. Tem o mesmo peso e liga do tornês (ou denier), na prática é a mesma moeda, apenas com a mudança de gravuras e na ostentação da palavra "politikon" no reverso, ao redor da cruz. Foi uma emissão criada para pagar mercenários latinos, são bem escassas.

exemplo 1: (foto retirada da internet)

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(politikon em bolhão, 0,4 gramas)


4.3 - O Sistema em Prata: É a mais importante desse interregno. Em 1354, no governo de João V, da dinastia dos Paleólogos, a cunhagem de ouro foi abandonada, adotando-se o monometalismo, baseado no uso exclusivo da prata para as cunhagens de maior valor e importância. Surgiu, ao menos em tese, um novo hyperpyron de prata, de grande peso, mas talvez ele nunca tenha sido cunhado de fato, pois não se conhecem exemplares. Assim, as moedas conhecidas são as divisionárias desse hyperpyron teórico.

STAVRATON: Era o divisor do hyperpyron de prata, valendo 1/2 desta moeda. São conhecidas também subdivisões do stavraton, em 1/2 stavraton (1/4 de hyperpyron) e 1/8 de stavraton (1/16 de hyperpyron). Tinha peso inicial de 8,6 gramas, mas com a decadÊncia e a desvalorização, chega até 7 gramas ou ligeiramente menos. Tiveram circulação até o desmoronamento definitivo do Império Bizantino. Traziam sempre o busto do imperador de frente numa das faces, e na outra a imagem de Cristo, é notória a degeneração das imagens.

exemplo 1: (imagem retirada da internet)

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(stavraton de prata - 6,6 gramas. Observa-se a cunhagem degenerada, típica desse período de extrema decadência)

exemplo 2: (imagem retirada da internet)

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(stavraton de 1423/48, uma das últimas moedas bizantinas- 6,8 gramas de peso)

exemplo 3: (imagem retirada da internet)

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(1/2 stavraton de prata - 3,7 gramas - cunhagem tosca)

4.4 - O Fim das cunhagens e a derrocada de 1453: Em 1453, conforme visto acima, o sultão Maomé II finalmente abre uma brecha nas muralhas da cidade, que não pode conter uma avalanche de invasores. O último imperador bizantino avança sobre a massa turca e morre lutando, pois nunca mais é encontrado. Assim, encerra-se o Império Greco-romano, e em consequência toda a sua numária segue o destino do Estado emissor que deixou de existir, ou seja, perde o poder liberatório legal, extinguindo-se.
A velha casa da moeda de Constatinopla, dali para frente, iria bater apenas moedas turcas, que passaram a circular naquelas regiões incorporadas ao Império Otomano.


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(Maomé III entra triunfante pelo portão de Constantinopla. Ao seu lado pode-se ver a sua guarda pessoal de jenizaros.)


5.0 - As Principais Casas de Cunhagem do Império Bizantino e Legendas Mais Usuais: Abaixo uma relação das principais casas de cunhagem bizantinas, o período de funcionamento e as principais legendas em grego que podemos encontrar nessas moedas, o que facilitará bastante identificações mais imediatas.

5.1 - Casas de Cunhagens:

CASA______________________LOCALIDADE____________________LETRA___________________________PERÍODO DE FUNCIONAMENTO
Alexandretta__________________Antióquia_______________________ΑЛЄЖАΝΔ_________________________________ 609-610
Alexandria____________________Egito___________________________ΑΛЄΞ,ΑΛΞΟΒ_______________________________ 525-646
Antiochia/ Theupolis___________Síria___________________________ NA, ANTIX, ANTX, ΓΗЄμР, P,ΘVΠΟΛS, ΘS____ 512-610
Carthago ____________________África do Norte __________________CAR, KAR, KART, CT, CRTς, KRTς ____________533-695
Carthagena __________________Espanha___________________________________________________________________560-620
Catania ______________________Sicilia __________________________CAT_______________________________________ 582-629
Cherson _____________________Crimeia_________________________XЄPCωNOC, XЄPCONOC, Π, ΠX ______________527-65/582-602/866-86/976-1025
Constantia ___________________Chipre__________________________KVΠPOV, KVΠPδ, KVΠP, CΠP________________ 610 e 629-629
Constantine __________________Numidia (Norte da África)________ COM ______________________________________540-541 /592-593
Constantinopla __________Turquia atual_____________________COM, CONOB, CONOS, COB_________________ Todo o período do Império
Corinto_______________________Grécia_____________________________________________________________________1143-1195
Cyzicus ______________________Turquia atual___________________KYZ, KY____________________________________ 518-629
Isaura _______________________Cilicia _________________________ISAYR _____________________________________617-618
Magnesia ___________________ Oeste de Anatólia __________________________________________________________1214-1261
Naples _______________________Itália __________________________NЄ ________________________________________641-668 / 715-717
Nicaea _______________________Turquia atual______________________________________________________________ 1208-1214
Nicomedia ___________________Turquia ________________________NIKO, NIK, NIC, NIKM, NIKOMI, NI____________ 498-627
Nicosia ______________________Chipre _____________________________________________________________________1184-1191
Perugia ______________________Itália Central ___________________P__________________________________________552-553
Phillippopolis _________________Trácia (Norte da Grécia) ____________________________________________________1092
Ravenna _____________________Norte da Itália___________________RAV, RA, RAB, RAVEN, RAVENNA ____________540-751
Roma _______________________Itália____________________________ROM, ROMA, RO , R , ROMOB______________ 741-775
Salona ______________________Costa da Dalmácia _________________________________________________________527-565
Sardenha____________________Itália____________________________S_________________________________________ 695-715
Seleucia _____________________Sul da Anatólia __________________SЄLISμ, SEL _______________________________615-617
Syracuse ____________________ Itália___________________________SECILIA, SCL, CVPAKOVCI__________________ 582-602
Thessalonica _________________Norte da Grécia _________________TЄS, ΘЄC, ΘЄS, THESSOB, TESOB, THSOB___ 630 / 1081-1118


5.2 - Algumas das principais legendas encontradas na numária:

ЬΑSILЄЧS ROМAIOΝ - Rei (basileu) dos Romanos.
ЬΑSILЄV ЬΑSILЄЧ - Rei dos Reis.
CO NOB - Constantinopolis Obryciacus (vide texto sobre os solidus)
D N - Dominus Noster - "senhor nosso", velho título ainda do Império Romano, encontrado em diversas moedas romanas também.
ЄΜΜΑΝΟVHΛ - Deus está conosco.
IHS CRISTUS REX REGNANTIUM - JESUS CRISTO Rei dos Reis.
ΙΧ ΧС - Jesus Cristo. (costuma aparecer junto ao Cristo entronado)
МР ΘΡ - Mãe de Deus. (costuma aparecer no verso ilustrando Nossa Senhora)
PF AVG - PIVS FELIX AVGVSTVS. Velho título ainda do Império Romano, encontrado em diversas moedas romanas também.
P.P. AVG - P (er) P (etuus) AVG (ustus) - Augustus perpétuo.
SERV CHRISTI - Servvus Christi ou "servo de Cristo."



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fernanrei
Reinado D.Afonso Henriques
Mensagens: 11012
Registado: terça mar 28, 2017 8:00 pm

Re: Introdução à numária do Império Bizantino MOEDAS BIZANTINAS

#2 Mensagem por fernanrei » domingo abr 19, 2020 11:21 am

Excelente apresentação, além de bem organizada é também uma síntese muito completa e de fácil consulta. Vou consultar muitas vezes de certeza. :clap3:
"Quod erat demonstrandum"

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silvio2
Reinado D.Afonso Henriques
Mensagens: 9506
Registado: sexta jun 28, 2013 4:10 pm
Localização: Leiria (Distrito)

Re: Introdução à numária do Império Bizantino MOEDAS BIZANTINAS

#3 Mensagem por silvio2 » segunda abr 20, 2020 7:37 am

Tópico espectacular! :D :dance:
Obrigado, caro Fabiano, pela disponibilidade e partilha de tão interessantes apontamentos. :clap3: :clap3:
Cumprimentos,
Sílvio Silva

AndreSilva
Sou só um euro caloiro
Mensagens: 3
Registado: terça abr 14, 2020 1:04 pm

Re: Introdução à numária do Império Bizantino MOEDAS BIZANTINAS

#4 Mensagem por AndreSilva » quarta abr 22, 2020 10:58 am

Impecável! Obrigado

alpinojuan
Reinado D.João VI
Mensagens: 442
Registado: sexta jun 07, 2019 10:03 pm

Re: Introdução à numária do Império Bizantino MOEDAS BIZANTINAS

#5 Mensagem por alpinojuan » quarta mai 13, 2020 9:08 pm

Obrigado pela fantástica apresentação

Merecia uma paginação para formato A4 em pdf para partilhar, pois está um bom trabalho e merece essa partilha.

Obrigado
Cordialmente
Juan Santos

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