República Dominicana - O Franco e o Peso

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doliveirarod
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República Dominicana - O Franco e o Peso

#1 Mensagem por doliveirarod » sexta abr 03, 2020 8:42 pm

dominican-republic.jpg
REPÚBLICA DOMINICANA - Localizada na Ilha de Hispaniola, faz fronteira com o Haiti. Consistiu o território na “porta de entrada” dos espanhóis no Novo Mundo, pois ali fundaram San Domingos, o primeiro assentamento espanhol nas Américas, em 1592, cidade iniciada ainda por Colombo e que hoje patrimônio da humanidade. A ilha serviu de porto seguro para que as frotas espanholas, inicialmente, aportassem, saindo de lá as expedições colonizadoras que foram paulatinamente batendo os índios na América do Norte e Central. Com a conquista das Américas, a região, que não era tão rica, perde a importância, pois já não era considerada estratégica, e decai. Em 1821, seguindo a derrocada dos espanhóis em toda a América colonial, o território declara sua independência da metrópole pelas mãos do Gen. Cáceres, passando a se chamar República do Haiti Espanhol. As negociações travadas com a Colômbia visavam a entrada do território na Grã-Colômbia almejada por Bolívar, porém, o Haiti se sentia ameaçado pelo intento. Assim, em fevereiro de 1822, o general Boyer, da “dinastia dos mulatos”, presidente do Haiti, invade e anexa o país. As tropas entraram por três frentes, sem declaração de guerra, impossibilitando qualquer resistência. A ocupação haitiana é lembrada como militar e violenta, e um período de muitos impostos, o que veio a gerar revoltas e descontentamentos. Afinal, em 1844, a diferença entre os dois povos se fez sentir, e os haitianos são expulsos definitivamente da ilha depois de algumas batalhas.
Entretanto, a independência não traz a paz desejada, entrando o país em guerras civis, até que o general Pedro Santana, no poder em 1861, solicita à Rainha espanhola Isabel II que retome a República, tornando-a novamente uma colônia. A antiga metrópole aceita, envia tropas e ocupa militarmente San Domingo. A ocupação não agrada boa parte das elites locais, que voltam a pagar tributos à Espanha. Assim, reinicia-se um movimento de independência e guerrilha. A febre e a guerra vão dizimando a guarnição espanhola, tornando a ilha pouco rentável. Finalmente em 1865, a rainha anula o decreto de anexação.
Em 1905, a situação econômica e política do país era bastante deteriorada, o que deu pretexto aos EUA de ocuparem todo o território, seguindo os preceitos da doutrina Monroe. Assim, Marines americanos com apoio naval invadem e ocupam a República (o Haiti também), que fica sob administração americana direta entre 1916 e 1921.
Como pior consequência dessa ocupação, houve a ascensão ao poder de Rafael Leonidas Trujillo (que seria falsificador e ladrão), militar aliado dos EUA, que recebeu grande apoio deles além da chefia do exército do país em 1928. Trujillo chegaria a presidência da República, tornando-se ditador vitalício, sempre apoiando e sendo apoiado pelos EUA em sua doutrina contra o comunismo e contra Castro em Cuba. Entretanto, o governo de Trujillo era tão violento e corrupto, que se tornou incomodo até para seus aliados, sendo o ditador assassinado em 1961.

A NUMÁRIA. Durante o período colonial o meio circulante era o mesmo de toda a América Espanhola, o dinheiro espanhol, consistente basicamente em reales de prata e escudos de ouro, batidos tanto na metrópole quanto nos demais territórios coloniais. A Espanha chegou a bater moeda de Real, 2 Reales e divisionárias em San Domingo, durante o reinado de Ferdinando VIII, período das Guerras Napoleônicas, eram moedas de cobre e prata bem toscas, cunhadas em pequenas quantidades. Também houve carimbagem local de moedas de prata, em nome do referido rei, nesse mesmo período.

Com a anexação haitiana e a perda da independência, a moeda do Haiti (Centimes/Gourde) entra no giro, passando a circular oficialmente a boa prata que havia no Haiti de então, juntamente com a moeda espanhola. Após a independência em 1844, surge a primeira emissão nacional, o Peso, subdividido em 8 reales. Nesta data, emitiram-se cobres no valor de ¼ de Real (total cunhado de 150.000 Pesos). Os governos que se sucediam, ante a falta de lastro e produção de riqueza, emitiam cada vez mais papel moeda, o que deixava a moeda nacional sempre desacreditada. Em 1877 surge uma emissão baseada no sistema decimal, mas a moeda nasce fraca, devido à emissão sempre excessiva de papel, de forma que se materializa inicialmente apenas na forma de moedas de cobre de centavos. Durante o período da breve volta da dominação espanhola, as autoridades coloniais levantaram mais de cento e quarenta milhões de pesos de papel em circulação, em papel ruim e moeda fraca, e, paralelamente, moedas de quase os países americanos, além de diversos países europeus, como França, Espanha, Alemanha e Inglaterra, de ouro e prata, formando um sistema monetário forte paralelo ao oficial, ruim, havendo uma tabela de conversão oficial com a prata e o ouro de mais de 25 países. Entretanto, a peça que mais aceitação tinha no mercado era o Peso mexicano de prata, que seria o padrão monetário mais bem aceito localmente.

Finalmente, em 1889, a Lei estabelece a criação de uma moeda nacional forte, em ouro e prata. A nova unidade seria o Dominicano de prata, subdividido em 100 centésimas. A base desse novo sistema seria a equiparação com o Franco francês. Entretanto, devido à incapacidade tecnológica do país e a falta de dinheiro, o projeto morre no papel.

O Franco: Nessa esteira, em 1890, aprovou-se o Franco como moeda oficial, dividido em 100 centésimas, de forma que a República Dominicana aderiu aos padrões da União Monetária Latina, em seus termos de 1865. A emissão da nova moeda deveria ser de doze milhões de francos, mas apenas uma pequena parte desse montante chega a ser batida. Assim, surge a primeira série de prata nacional da República Dominicana. Conforme dito, obedecia aos parâmetros da UML, possuindo, portanto, a “coroa” e suas divisionárias, para além do nome igual ao Franco, as suas mesmas características intrínsecas, ou seja: 1 Franco pesaria 5 gramas de prata 0,835 e a coroa de 5 Francos pesaria 25 gramas de prata 0,900. O contrato de emissão foi fechado com a Casa da Moeda de Paris, onde se bateram os três valores autorizados. Os gravadores de reverso e verso foram respectivamente os famosos ensaiadores Ernest Paulin Tasset e Jean Legrange, responsáveis, aliás, pelas gravações das cunhagens francesas do período, além de diversos outros países. Os 3 valores têm as mesmas características.
Reverso: sempre o índio representando a liberdade, “"X" FRANCOS 1891”
Verso: armas nacionais, “REPUBLICA DOMINICANA GRAM·”X” LEI·900”.
Cunhagem dos 3 valores apenas numa única data, 1891.

5francd.jpg
5 francos
KM 10
25 gramas, prata 0,900
150.000 exemplares cunhados.

1fdom.jpg
1 Franco
KM 9
5 gramas 0,835
125.000 exemplares cunhados

50centdom.jpg
50 centésimos
KM 8
1,5 gramas 0,835
150.000 exemplares cunhados



Como se vê, a cunhagem dos 3 exemplares foi curta. Isso também se fez sentir no comércio de então. O povo via a moeda com desconfiança, embora ela fosse de excelente liga e padrão, preferindo receber o Peso mexicano, já amplamente aceito e bem familiarizado. Assim, o governo fecha um acordo com o comércio local, no qual o novo franco seria aceito na proporção de 1 Franco para 25 centavos mexicanos.

O Peso: A insuficiência de moeda nacional e a contínua emissão de papel desvalorizado acabaram por desmonetarizar o Franco, que é extinto em 1897, dando lugar novamente ao Peso Dominicano. A Lei estabelecia que o padrão para conversões seria o do dólar de ouro americano, e que as moedas estrangeiras deveriam cessar a circulação no país.
A nova série, entretanto, embora bonita e também cunhada na Casa da Moeda de Paris, sendo elaborada por ensaiadores franceses, era composta de “monedas feble”, ou seja, moedas de liga baixa (billon). Assim, embora o Peso mantivesse seu peso conforme as determinações da União Monetária Latina, a prata era bem baixa, teor de apenas 0,350, o que demonstrava a continuidade dos mesmos problemas econômicos anteriores.
Foram emitidos 4 valores: 10, 20, 50 centavos e 1 Peso. Todos eles em prata 0,350.
No reverso o índio representando a liberdade, valor facial e data.
No verso as armas nacionais, “REPÚBLICA DOMINICANA” e o peso, suprimindo-se a anterior menção à liga do metal.


Eis a série:


1pdom97.jpg
1 Peso
KM 14
25 gramas - Prata (bolhão) 0,350
1.455.000 exemplares cunhados
mpdom97.jpg
½ Peso
KM 13
12,5 gramas - Prata (bolhão) 0,350
917.000 exemplares cunhados

20cdom97.jpg
20 centavos
KM 12
5 gramas - Prata (bolhão) 0,350
1.395.000 exemplares cunhados
10cdom97.jpg
10 centavos
KM 11
2,5 gramas - Prata (bolhão) 0,350
774.000 exemplares cunhados



A moeda fraca também não resistiu muito tempo às crises e à preferência pela moeda estrangeira. Assim, já em 1905, surge uma nova reforma monetária, atrelando o Peso ao Dólar americano, com um câmbio fixo de 5 Pesos para um Dólar.

O Peso/Dólar: Em 1937, encontrava-se a República Dominicana alinhada com os EUA, e seu ditador, Rafael Trujillo ( viewtopic.php?f=62&t=122256 ), promoveu, com o auxílio dos EUA, uma reforma monetária que tornou o Peso uma moeda forte, atrelada à americana na proporção de 1 Peso para 1 Dólar (isso aconteceu também com outros países “satélites” no Caribe, como Cuba e Panamá).

Assim, surge uma belíssima série de 4 valores de prata do novo Peso/Dólar, totalmente equiparado ao Dólar americano, sendo em tudo idênticas às americanas, desde o peso de cada exemplar até a boa liga 0,900. O contrato de cunhagem foi firmado com a Casa da Moeda de Birminghan, Inglaterra, sendo o responsável pela cunhagem o ensaiador inglês Humphrey Paget (HP).
No reverso o índio, a data e o facial.
No verso as armas.

Eis a série:
1p52.jpg
Peso
KM 20
26, 72 gramas
Prata 0,900

Datas cunhadas:
1939 – 15.000 exemplares
1952 – 20.000 exemplares

mp44.jpg
½ Peso
KM 19
12,5 gramas
Prata 0,900

Datas cunhadas:
1937 – 500.000 exemplares
1944 – 100.000 exemplares
1947 – 200.000 exemplares
1951 – 200.00 exemplares
1952 – 140.000 exemplares
1959 – 100.000 exemplares
1960 – 100.000 exemplares
1961 – 400.000 exemplares

25c37.jpg
25 centavos
KM 19
6,25 gramas
Prata 0,900

Datas cunhadas:
1937 – 560.000 exemplares
1939 – 160.000 exemplares
1942 – 560.000 exemplares
1944 – 400.000 exemplares
1947 – 400.000 exemplares
1951 – 400.00 exemplares
1952 – 400.000 exemplares
1956 – 400.000 exemplares
1960 – 600.000 exemplares
1961 – 800.000 exemplares

10c42.jpg
10 centavos
KM 18
2,50 gramas
Prata 0,900

Datas cunhadas:
1937 – 1.000.000 exemplares
1939 – 150.000 exemplares
1942 – 2.000.000 exemplares
1944 – 1.000.000 exemplares
1951 – 500.00 exemplares
1952 – 500.000 exemplares
1953 – 750.000 exemplares
1956 – 1.000.000 exemplares
1959 – 2.000.000 exemplares
1961 – 2.000.000 exemplares


Em 1963, já sentindo os efeitos da alta da prata no mercado internacional, a liga é rebaixada para 0,650, não havendo mais a antiga paridade com o dólar americano. São as últimas moedas em metal precioso na circulação. Após, a série continuaria em níquel, até sumir na década de 70.


Observações; a série dos francos é fantástica, na minha opinião uma das mais belas séries da América Latina, e bem difícil de se conseguir, os exemplares tiveram tiragem curta e vida curta também, sendo logo desmonetarizados. Atenção à peça de 5 francos! É muito escassa!
A série de 1897 teve certa tiragem, mas os exemplares que nos chegaram aos dias atuais são na maioria “feios”, seja pela circulação seja pela degradação da liga baixa, há algo na liga que não se mistura bem, deixando o índio com a “cara suja”. O ideal realmente são exemplares menos circulados.
A série em dólar; merecem atenção as coroas, ambas têm tiragem bem baixa. As outras devem ser procuradas em bom estado(MBC/XF ao menos), com “exceção” das datas mais remotas e de menor tiragem.
Não tem Permissão para ver os ficheiros anexados nesta mensagem.


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silvio2
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Re: República Dominicana - O Franco e o Peso

#2 Mensagem por silvio2 » sexta abr 03, 2020 9:15 pm

Caro amigo Fabiano
Obrigado, pelo excelente apontamento aqui disponibilizado e pela partilha de tão bonitas moedas. :D
Parabéns! :clap3:
Cumprimentos,
Sílvio Silva

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fernanrei
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Re: República Dominicana - O Franco e o Peso

#3 Mensagem por fernanrei » sexta abr 03, 2020 11:16 pm

Excelente trabalho e igual apresentação, como sempre. :clap3:
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Rodrigues
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Registado: sábado nov 17, 2018 1:30 pm

Re: República Dominicana - O Franco e o Peso

#4 Mensagem por Rodrigues » sábado abr 04, 2020 10:14 pm

Uma bela série! Texto bem explicativo! Parabéns pelos exemplares e pela apresentação! :asdf:

Rodrigues
Reinado D.Luís
Mensagens: 197
Registado: sábado nov 17, 2018 1:30 pm

Re: República Dominicana - O Franco e o Peso

#5 Mensagem por Rodrigues » sábado abr 04, 2020 10:16 pm

Usei o emoji errado, sem querer! Desculpe-me! Era :clap3:

Pedro Leg
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Registado: domingo set 29, 2019 3:07 pm

Re: República Dominicana - O Franco e o Peso

#6 Mensagem por Pedro Leg » domingo abr 05, 2020 6:01 am

Como sempre, excelente trabalho e belas moedas. Muito obrigado e parabéns :clap3:
Pensamento Livre

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LSalema
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Registado: quarta mai 09, 2018 1:16 am

Re: República Dominicana - O Franco e o Peso

#7 Mensagem por LSalema » domingo abr 05, 2020 3:32 pm

Parabéns pela apresentação da história e pelas belas moedas. :claps:
Cumprimentos,
Lincoln Salema
Rio de Janeiro, RJ - Brasil
O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro (Ec 5.10a)
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