Notas Clandestinas

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narper
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Notas Clandestinas

#1 Mensagem por narper » terça mai 23, 2006 1:09 am

Aproveitando as iniciativas dos colegas Carlos Pinto (Zimpeto) e Paulo Moleiro (pacm31) em que abordaram o tema das notas insulares e exibiram papel-moeda clandestino ou revolucionário, mostro alguns exemplares de notas contra-marcadas na Madeira dos anos pós 25 de Abril.

Após o Golpe Militar, à semelhança do que ocorreu por todo o País, também no Arquipélago da Madeira acendeu-se uma luta pelo poder entre apoiantes de esquerda e de direita. Os últimos, ante a perspectiva duma "viragem à esquerda" da nação e clamando velhas aspirações autonómicas, não se coibiram de arvorar intentos separatistas / independentistas, organizados em torno da FLAMA (Frente de Libertação do Arquipélago da MAdeira), organização político / terrorista que ao tempo gozou considerável popularidade e cujo braço armado levou acabo acções bombistas contra membros e organizações de esquerda bem como interesses do Estado Português.
Com os estabelecimento da Autonomia Regional, a consolidação duma Democracia do tipo Ocidental após o 25 de Novembro e com o abrandamento dos conflitos políticos apartir do início dos anos oitenta, tal organização vai perdendo o seu "quê" de existir, acabando por passar à história.

Eis alguns exemplares de notas correntes à época sobre as quais foram aplicados carimbos, alguns dos quais aludindo a "Zarcos" ou "Zargos", pseudo unidade monetária "flamista", que serviu mais a propósitos de propaganda política que monetários.


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20$00 e 100$00 Ch. 7, com carimbos "República da Madeira" sobre a marca d'água e "Zargos" abaixo dos algarismos do valor em ambos os lados.



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20$00 e 50$00 Ch.9 com selo branco "República da Madeira Flama" orlando as quinas, sobre a marca d'água



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100$00 Ch. 7 com carimbo "Movimento para a Indenpendencia da Madeira". Quanto a este exemplar não sei se o carimbo era da "flamista" ou como já me foi dito de uma organização separatista, desta feita de inspiração à esquerda.

Se algum dos colegas foristas dispõe de informações sobre este tema, gostaria que as transmitisse, porquanto desconheço qualquer trabalho ou estudo sobre o mesmo.



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Zimpeto
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#2 Mensagem por Zimpeto » terça mai 23, 2006 7:00 am

Super Interessantes!!!!Imagem

Carlos Pinto
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tm1950
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#3 Mensagem por tm1950 » terça mai 23, 2006 8:33 am

Nunca tinha visto e desconhecia a existência destas notas carimbadas.
Já tinham aparecido no fórum umas “notas” relativas aos Açores que surgiram num contexto e com uma motivação semelhante.
A FLAMA está para a Madeira como a FLA está para os Açores. Nasceram para combater o perigo comunista no Continente e aproveitando as ideias independentistas das colónias agitaram também essa bandeira, procurando deste modo aliciar apoiantes. Eram organizações de extrema-direita e à semelhança do que acontecia no Continente promoviam acções terroristas face ao poder instituído. Eram visados essencialmente os partidos, organizações e militantes da esquerda e extrema-esquerda, assim como interesses do Estado.
A FLAMA não chegou a ter a dimensão e militância da FLA. Depois do 25 de Novembro de 1975 e com a normalização da vida política que se seguiu, a FLAMA foi perdendo a pouca dimensão e importância que chegou a ter.
A FLA teve a sua base de apoio essencialmente em S. Miguel. Esteve activa até um pouco mais tarde e um dos pontos altos da sua fase tardia foi a recepção à visita do Dr Almeida Santos a S. Miguel, em 1977, se bem me lembro. A recepção ao então ministro feita pelos elementos da FLA não foi das mais acolhedoras e no seguimento desses acontecimentos foi enviada Polícia de Choque para S. Miguel. A permanência desta Polícia nas ruas de Ponta Delgada, em vez de tranquilizar, acabou por alterar ainda mais os ânimos, originando cenas de provocação e posterior resposta originando confrontos que complicaram deveras a situação. Certamente que os Chefes da Polícia alertaram a classe política para o caricato da situação e passados poucos dias a Polícia retirou ao Continente, sem honra nem glória.
José de Almeida, o líder assumido da FLA, foi alvo de perseguições pela Polícia e esteve preso mais que uma vez devido às actividades da organização.
No final dos anos 1970´s a FLA deixou de ter visibilidade, mesmo em S. Miguel.
Estas notas carimbadas, assim como os originais da FLA são papéis muito interessantes e que não desdenharia ter na minha colecção.
Obrigado ao Pereira pelos exemplares.
Celso.
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Paraq
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#4 Mensagem por Paraq » terça mai 23, 2006 10:34 am

Ouvi falar nisso suavemente, mas em notas, nem fazia ideia!
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Tiago6
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#5 Mensagem por Tiago6 » terça mai 23, 2006 11:13 am

Muito intressantes essas notas, essas eu tb não conhecia. Conhecia umas outras que já passaram aqui pelo forum.
http://www.forum-numismatica.com/viewto ... ght=zargos

Reparei na data deste tópico, parece que foi ontem, mas já foi em 2004. :shock:

O Pereira conhecia estas?

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Jose Manuel Aguiar Nunes
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#6 Mensagem por Jose Manuel Aguiar Nunes » terça mai 23, 2006 6:10 pm

:hammer: :hammer: :hammer:

:bier:

Ola Cumprimentos ao amigo Narper.

Gostei da suas notas, algumas tambem tenho, e com grande orgulho as guardo.

Só para chamar a atençao, do seguite.

Náo sei que idade tinha quando a Flama, andou na rua mas penso , que ainda não era vivo e por isso gostava de lhe dar uma pequena ajuda ao amigo patricio.
A mensagem que escreveu quase em tudo esta correcto , só que os Madeirenses que andaram nessa luta não eram terroristas,como faz crer!!
Ouve gente que lutou, pela sua terra, para que náo acontecesse à madeira e aos Acores ,ou que aconteceu ás provincias ultramarinas.

Quando Náo sabemos ao certo o que aconteceu, e narramos ,o que outros nos dizem....è preciso ter cuidado , para nao errarmos tambem .

A esquerda algumas asneiras fez aqui na Madeira, e sempre , culpou os outros, embora nunca chegando a ter saida alguma.,porque o povo não é burro..
A Madeira é o que é hoje pelo seu povo e pela sua vontade de vencer.

Convidadva ao amigo Snaper a leitura das achas na Autonumia, que é dos poucos livros feitos por alguma gente de esquerda, e que narra o que se passou nesses tempos, aqui na Madeira.

Desse tempo ficou os emblemas, as bandeiras as notas, o suor ,e algumas lembranças, daqueles que lutaram pela sua terra, pelo bem viver das suas familias, pelo futuro dos seus,e para que a Madeira seja hoje o que é, uma terra de paz, sossego, progresso, e com futuro muito melhor.

Um abraço

Aguiar

:bier:


:hammer: :hammer: :hammer:
Acredito que nada nos pertence, apenas temos a sorte de gerir recursos que permitam satisfazer-nos melhor ou pior,..na morte somos todos iguais... Joe Berardo Comendador Madeirense

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#7 Mensagem por tm1950 » terça mai 23, 2006 9:20 pm

As actividades terroristas, de esquerda e de direita, que se verificaram nos Açores e na Madeira, especialmente no período de 11 de Março a 25 de Novembro de 1975, foram insignificantes se comparadas com as que aconteceram no Continente. Quer em quantidade, quer na gravidade e proporções que atingiram.
Os trabuqueiros da FLAMA e da FLA foram uns aprendizes relativamente aos do Continente, fossem eles de esquerda ou de direita. De resto, isso é compreensível visto que a esquerda trabuqueira pouca actividade teve nas ilhas.
A designação terrorista pode parecer exagerada, mas que houve práticas terroristas é inegável. Alguns desses elementos trabuqueiros são agora prestigiados jornalistas, comerciantes e industriais, empresários ligados aos mais diversos sectores desde a moda, ao têxtil, ao futebol e outros.
Julgo que o Aguiar, com um pequeno esforço, pode aceitar os termos usados.

Após a implosão da União Soviética os conceitos de esquerda e direita perderam muita importância. Ficaram quase esvaziados de grande parte da sua carga ideológica. Não pretendo dizer que a esquerda estava apenas simbolizada na URRS. Nada disso. Mas com o desaparecimento do Bloco de Leste houve alterações sensíveis na esquerda. No estar e sentir dessa esquerda. Para mim, são conceitos que fazem cada vez menos sentido. Por isso, não posso estar de acordo com a frase do Aguiar:
A esquerda algumas asneiras fez aqui na Madeira, e sempre , culpou os outros, embora nunca chegando a ter saida alguma.,porque o povo não é burro..
Uma pessoa mal intencionada poderia concluir que para o Aguiar quem é de esquerda é burro. O que não pode ser verdade, manifestamente.
Enfim, afinal não estamos aqui num comício do Dr Alberto João Jardim.

Esses tempos passaram. Estou convencido que os dois movimentos pouco espaço irão ocupar na história dos dois povos e talvez acabem por ser essas tais lembranças que os manterão lembrados.
Celso.
Saúde e Fraternidade.
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narper
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#8 Mensagem por narper » terça mai 23, 2006 9:46 pm

Caro Amigo e Conterrâneo Aguiar
e demais Foristas

:Spt

Há muito que pretendia colocar um tópico sobre as notas emitidas pela Flama, pelo eventual interesse sobre um tema tão pouco conhecido. Quanto às emitidas pela Flama já não vejo necessidade de as colocar dado o Aguiar as ter em tempos "postado". Adiei essa iniciativa por saber de antemão que poderia criar celeuma dado as feridas abertas então não estarem ainda cicatrizadas. Porém, ontem, após adquirir estes exemplares não me contive.

Cingi-me e continuarei a fazê-lo, quer neste espaço, bem como na minha vida pública, ao narrar do estritamente histórico na esperança de poder transmitir conhecimentos a alguém que sobre os mesmos possa ter interesse e quiçá desenvolver o seu estudo. Não sou académico e sinto-me grato em receber conhecimentos e no dever de os divulgar na medida das minhas muito limitadas capacidades.

Como Cidadão da República Portuguesa que sou e embora a tal nada me obrigue, publicamente afirmo-me como apartidário (embora vote em todas as eleições), ateu (embora tenha um educação Católica Apostólica Romana e acho divino o Requiem de Verdi - já sei parece uma ópera e não uma Missa pro Defunctis) bem como não sou adepto de qualquer clube de futebol (embora tenha que participar/assistir a alguns jogos por motivos profissionais) - e não se pense que sou um "contrariado", fi-lo, faço e falo-ei enquanto me sentir motivado a tal.
Não me moveram sobre este tema motivações de índole político partidária, às quais como já disse sou alheio.

Aquando o 25 de Abril de 1974 tinha 2 (dois) anos de idade (o que aliás pode ser verificado no meu perfil) e desse tempo guardo na lembrança o estertor das bombas, as paredes pintadas e a melodia de "uma gaivota voava voava..." e o afecto de meus avós e a ausência de meus pais, mais uns madeirenses imigrantes...

Se alguém quiser chamar à Flama um "movimento de resistência" ou outra coisa qualquer, porquanto simpatize com o seu ideário ou tenha militado nas suas fileiras é-me indiferente e aceito-o. Ademais, como qualquer movimento de guerrilha ou organização terrorista, será sempre vista como "libertadora" aos olhos dos seus simpatizantes e "o mal" aos olhos dos seus detractores.
A resistência francesa era uma organização "terrorista" aos olhos do governo de "Vichy" e tornou-se na heróica "Resistence" com a vitória aliada. A "LUAR" e a "ARA" foram, ao tempo do Estado Novo, organizações terroristas e com o advento da Democracia passaram a heróicas organizações anti-fascistas. a “al Qaeda” é aos olhos do Ocidente uma organização terrorista, porém aos olhos de milhões de islâmicos são verdadeiros "mártires e exemplos de virtude".

Felizmente cresci numa época em que colocar engenhos explosivos contra alvos civis, assassinatos políticos e sequestros são praticas criminosas e quando praticas de forma organizada e em associação chamam-se de terrorismo.

Como disse e repito-o limito-me a narrar ou descrever factos ou ideias independentemente da opinião que tenha sobre elas e faço-o de forma livre e consciente.

P.S. Quanto à publicação “Achas na Autonomia” do DN-Madeira, tive dois exemplares que entretanto emprestei a “não sei quem” e ...
... se alguém tiver um disponível que diga.

narper
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#9 Mensagem por narper » terça mai 23, 2006 11:22 pm

Viva Amigo
Tiago6 Escreveu:O Pereira conhecia estas?
Por acaso sim e ia "posta-las", mas como já ai estão não vale a pena. Obrigado pela atenção.

No entanto tenho uma delas com erro de impressão - 50 Zarcos (salvo erro???) com a face repetida em ambos lados - se arranjar maneiras de a fotografar vou colocar, isto porque "scannear" não é a mesma coisa, parece montagem.

Quanto às notas emitidas pela Flama, são emitidas em papel "couchet" de baixa expessura (80 a 100 g/m2 - pelo que me parece) com impressão policromática, sem marca d'água, filete de segurança, numeração ou outro qualquer dispositivo anti-falsificação.
Consta que foram impressas nos Estados Unidos, possivelmente por ao tempo a nível local não se encontrarem disponiveis mecanismos para uma impressão colorida.

Já agora deixo alguns pormenores das sobrecargas nas notas nacionais

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Pormenor do carimbo sobre a marca d'água.


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Carimbo da pseudo unidade monetária "Zarco / Zargo".


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Selo branco da "Flama" possivelmente usado numa fase posterior à dos primeiros carimbos. Vista colorida e em negativo.


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Carimbo do "Movimento para a Independencia da Madeira" organização que desconheço.

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Hernâni Gaspar
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#10 Mensagem por Hernâni Gaspar » quarta mai 24, 2006 12:05 pm

Eu por acaso já tive algumas dessas notas, nomeadamente uma de 20 escudos Sto António alterada para 20 zarcos e uma de 50 escudos Raínha Sta Isabel com o carimbo branco que aqui se reproduz.
São notas muito interessantes :D

Hernâni Gaspar

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