Alves Reis - a chegada das notas
- tm1950
- Reinado D.Afonso Henriques
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Alves Reis - a chegada das notas
Há quem pense que Artur Virgílio Alves Reis foi um visionário, um empreendedor, um bem intencionado, um patife bom.
Face à bibliografia consultada, eu diria que AR foi um mentiroso, um larápio, um vigarista, um trafulha, um criminoso.
Ele e os seus sócios terão utilizado cerca de 200.000 notas, menos de metade do total que conseguiram mandar imprimir, as 580.000 notas.
Do primeiro contrato com a firma Waterlow & sons conseguiram 200.000 notas, das quais não puderam por em circulação 90.000, por terem séries que o BdP não tinha emitido.
Das 380.000 notas do segundo contrato, terão apenas utilizado 50.000 da primeira entrega e, possivelmente, cerca de 40.000 notas que entraram em Portugal como pertencendo à bagagem do embaixador da Venezuela em Portugal, Planas Suarez.
Estes cerca de 100.000 contos foram gastos em futilidades, na sua maior parte. Jóias, carros, viagens, casas, pagar favores, fundar o Banco Angola Metrópole, e muito pouco em actividades económicas produtivas.
As notas entraram em Portugal da forma seguinte:
10Fev1925: a Waterlow & Sons entrega a Marang e José Bandeira 20.000 notas, sendo transportadas em malas de couro de Londres para o seu escritório em Haia.
25Fev1925: foram entregues a Marang e José Bandeira mais 30.000 notas, sendo igualmente transportadas em malas de couro para o seu escritório em Haia.
12Mar1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 150.000 notas, sendo transportadas em malas de couro para o seu escritório em Haia. As malas seguiram de navio de Londres para a estação de Hoek Van Holland, onde o condutor e o carro de Marang os esperava e transportou para Haia. Eram providas de uma etiqueta dizendo “Legação de Portugal”, que lhes permitiram passar na alfândega de Hoek Van Holland como bagagem de José Bandeira que tinha um “cartão cor de laranja”, uma espécie de salvo-conduto, como se pertencesse à Legação Portuguesa.
As notas com a série de vogal dupla e as de séries superiores a 1AN (90.000 notas) estavam neste lote e foram separadas das restantes, por António Arhens Novais, que se deslocou a Haia, no dia 13Mar, para o efeito. As restantes 60.000 foram misturadas e novamente empacotadas por António Novais para seguirem para Portugal. Estas notas com as séries AE, AI, AO, AU, AP, AQ, AR, AS e AT (90.000) não podiam ser colocadas no giro e ficaram na Holanda.
28Ago1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 50.000 notas da segunda encomenda.
José Bandeira tinha chegado com Moura Coutinho a Haia, no dia 27Ago, sendo a função deste contar, baralhar e voltar a empacotar as notas para serem transportadas para Lisboa.
07Set1925: chegam a Lisboa as 50.000 notas.
09Out1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 150.000 notas da segunda encomenda.
10Nov1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 180.000 notas da segunda encomenda.
23Nov1925: de comboio, Planas Suarez, ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela em Portugal, chega a Lisboa acompanhado de José Bandeira e Marang, trazendo as 330.000 notas na mala diplomática do embaixador. As notas entraram sem dificuldades alfandegárias e foram transportadas para a Legação da Venezuela, em Lisboa, de onde seriam retiradas à medida das necessidades.
Total das notas que terão entrado no giro: 110.000 + 50.000 + c.40.000 = c. 200.000 notas
Face à bibliografia consultada, eu diria que AR foi um mentiroso, um larápio, um vigarista, um trafulha, um criminoso.
Ele e os seus sócios terão utilizado cerca de 200.000 notas, menos de metade do total que conseguiram mandar imprimir, as 580.000 notas.
Do primeiro contrato com a firma Waterlow & sons conseguiram 200.000 notas, das quais não puderam por em circulação 90.000, por terem séries que o BdP não tinha emitido.
Das 380.000 notas do segundo contrato, terão apenas utilizado 50.000 da primeira entrega e, possivelmente, cerca de 40.000 notas que entraram em Portugal como pertencendo à bagagem do embaixador da Venezuela em Portugal, Planas Suarez.
Estes cerca de 100.000 contos foram gastos em futilidades, na sua maior parte. Jóias, carros, viagens, casas, pagar favores, fundar o Banco Angola Metrópole, e muito pouco em actividades económicas produtivas.
As notas entraram em Portugal da forma seguinte:
10Fev1925: a Waterlow & Sons entrega a Marang e José Bandeira 20.000 notas, sendo transportadas em malas de couro de Londres para o seu escritório em Haia.
25Fev1925: foram entregues a Marang e José Bandeira mais 30.000 notas, sendo igualmente transportadas em malas de couro para o seu escritório em Haia.
12Mar1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 150.000 notas, sendo transportadas em malas de couro para o seu escritório em Haia. As malas seguiram de navio de Londres para a estação de Hoek Van Holland, onde o condutor e o carro de Marang os esperava e transportou para Haia. Eram providas de uma etiqueta dizendo “Legação de Portugal”, que lhes permitiram passar na alfândega de Hoek Van Holland como bagagem de José Bandeira que tinha um “cartão cor de laranja”, uma espécie de salvo-conduto, como se pertencesse à Legação Portuguesa.
As notas com a série de vogal dupla e as de séries superiores a 1AN (90.000 notas) estavam neste lote e foram separadas das restantes, por António Arhens Novais, que se deslocou a Haia, no dia 13Mar, para o efeito. As restantes 60.000 foram misturadas e novamente empacotadas por António Novais para seguirem para Portugal. Estas notas com as séries AE, AI, AO, AU, AP, AQ, AR, AS e AT (90.000) não podiam ser colocadas no giro e ficaram na Holanda.
28Ago1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 50.000 notas da segunda encomenda.
José Bandeira tinha chegado com Moura Coutinho a Haia, no dia 27Ago, sendo a função deste contar, baralhar e voltar a empacotar as notas para serem transportadas para Lisboa.
07Set1925: chegam a Lisboa as 50.000 notas.
09Out1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 150.000 notas da segunda encomenda.
10Nov1925: foram entregues a Marang e José Bandeira 180.000 notas da segunda encomenda.
23Nov1925: de comboio, Planas Suarez, ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela em Portugal, chega a Lisboa acompanhado de José Bandeira e Marang, trazendo as 330.000 notas na mala diplomática do embaixador. As notas entraram sem dificuldades alfandegárias e foram transportadas para a Legação da Venezuela, em Lisboa, de onde seriam retiradas à medida das necessidades.
Total das notas que terão entrado no giro: 110.000 + 50.000 + c.40.000 = c. 200.000 notas
Re: Alves Reis - a chegada das notas
Uma excelente síntese de um tema bastante interessante. É uma passagem da nossa história que já fez correr muita tinta
"Quod erat demonstrandum"
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- Reinado D.Miguel
- Mensagens: 344
- Registado: quarta set 11, 2013 7:41 am
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Re: Alves Reis - a chegada das notas
Mais uma excelente partilha
Manuel
Manuel
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- Reinado D.Dinis
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- Registado: domingo ago 04, 2013 11:09 pm
Re: Alves Reis - a chegada das notas
Pode ser muita coisa Alves Reis, mas é indiscutível que possuía uma inteligência acima da média!
Re: Alves Reis - a chegada das notas
O Alves Reis foi um visionário, um empreendedor, um mentiroso, um larápio, um vigarista, um trafulha e sim um criminoso. Por isso mesmo foi condenado.
Pelo que li, ele era realmente admirado. Admirado até depois de ser preso. Não admirado por ser um trafulha, um criminoso, mas pela sua "chico-espertice", pela sua inteligência.
Culturalmente, Portugal não é, nem nunca foi um país corrupto, com uma corrupção enraizada. É sim um país onde se admira a "chico-espertice" e se tenta imitar tal, para benefício próprio. Alves Reis era admirado pela sua "chico-espertice", pelo feito que fez e pela sua ousadia.
Em termos económicos, Portugal provavelmente ganharia mais se a marosca não tivesse sido descoberta do que ter sido descoberta, independentemente de indemnizações recebidas e geridas por Salazar.
Foi um criminoso? Claro que foi!
Mas é mais relembrado pela sua astúcia, inteligência, empreendedorismo e pelas suas façanhas!
Minha opinião.
Pelo que li, ele era realmente admirado. Admirado até depois de ser preso. Não admirado por ser um trafulha, um criminoso, mas pela sua "chico-espertice", pela sua inteligência.
Culturalmente, Portugal não é, nem nunca foi um país corrupto, com uma corrupção enraizada. É sim um país onde se admira a "chico-espertice" e se tenta imitar tal, para benefício próprio. Alves Reis era admirado pela sua "chico-espertice", pelo feito que fez e pela sua ousadia.
Em termos económicos, Portugal provavelmente ganharia mais se a marosca não tivesse sido descoberta do que ter sido descoberta, independentemente de indemnizações recebidas e geridas por Salazar.
Foi um criminoso? Claro que foi!
Mas é mais relembrado pela sua astúcia, inteligência, empreendedorismo e pelas suas façanhas!
Minha opinião.
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- Reinado D.Dinis
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- Registado: domingo ago 04, 2013 11:09 pm
Re: Alves Reis - a chegada das notas
Obrigado!