Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

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Alfonsvs
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Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por Alfonsvs » sexta mai 01, 2020 8:55 pm

Pataco de 1825

ImagemImagem

Bronze, 34,00g
35mm x 4mm de espessura
AG 04.12

A minha paixão pelas moedas começou muito cedo, com o ajuntamento de uma coleção por tipos, desde os cinco anos de idade, em 1969, com moedas da república, ex-colónias e algumas pesetas. Mas o mais relevante aconteceu 4 anos depois.
Lembro-me como se tivesse sido ontem, quando uma minha tia revelou que tinha encontrado no meio de uma parede da casa, ao fazer obras, um saco com 164 moedas em bronze e cobre. Tinha moedas desde o reinado de D. João VI ao de D. Luís, onde a data mais recente era 1875. As moedas de D. Luís estavam em maioria e de belas a soberbas. Em fraco estado de conservação como este pataco, eram menos de 10 moedas.
O meu azar é que durante o espaço de um mês que elas foram mostradas a curiosos, havia duas ofertas de compra para o saco das moedas: 1500 escudos pelo presidente da junta da freguesia da minha tia (a 12 km de Barcelos) e 1750 escudos pelo padre da freguesia vizinha.
A minha “sorte” é que o meu pai também mostrou aos 7 filhos algumas dessas moedas, no Natal de 1973, e apenas eu é que fiquei completamente “louco” com o que via. O pataco é enorme nas mãos de um rapaz de 9 anos, assim como os XX réis de D. Luís !!!
Consegui reunir em duas semanas o mínimo que a minha tia exigia: 2000 escudos.
Em meados de Janeiro de 1974 fui na minha pequena bicicleta, roda 16, a casa da minha tia com um saco de notas e moedas, que reuni de familiares e irmãos mais velhos.
Começou nesse dia uma grande aventura, porque o empréstimo não era a fundo perdido e em poucos meses caí na realidade, tinha que vender parte do tesouro para recuperar o dinheiro e pagar as dívidas!
Ainda não tinha completado 10 anos de idade e já conhecia vários comerciantes de moedas em Braga e no Porto. Alguns com várias técnicas para me desvalorizarem as moedas: esta foi limpa com um pano, esta está sem brilho.
O Sr. Rafael em Braga, foi quem me comprou a maior parte das moedas. Claro que as moedas no estado que estavam eram fáceis de vender, mas tive que aceitar valores baixos para conseguir o que queria. Os III réis de D. Luís, a 30 escudos, os V e X réis a 50 e os XX réis a 60 escudos. Patacos de D. Maria II a 100 e os de D. Miguel a 150 escudos.
O que me custou mais vender foi um Pataco de D. Pedro IV de 1826 por 200 escudos, quando no catálogo de Ferraro Vaz já apresentava o valor de 450 escudos. Era melhor que esta viewtopic.php?f=4&t=126423&p=891886#p891886
Foram à volta de 100 moedas que tive que vender para recuperar os 2000 escudos. Menos mal, porque em várias viagens de autocarro e comboio apenas duas vezes é que alguém da minha família me acompanhou. :)

A vida nem sempre corre bem e hoje só este pataco resta desse tesouro.


José Matos

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fernanrei
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por fernanrei » sexta mai 01, 2020 9:01 pm

É uma história muito cativante, em todos os aspectos. A minha paixão começou um pouco mais tarde, já eu tinha 12 anos. O meu avó paterno mostrou-me o seu tesouro numismático e nunca mais parei, com altos e baixos como seria de esperar, mas ainda por cá ando a tentar melhorar a colecção ao ritmo possível. :clap3:
"Quod erat demonstrandum"

Collectorr
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por Collectorr » sexta mai 01, 2020 9:22 pm

Alfonsvs Escreveu:
sexta mai 01, 2020 8:55 pm
Pataco de 1825

ImagemImagem

Bronze, 34,00g
35mm x 4mm de espessura
AG 04.12

A minha paixão pelas moedas começou muito cedo, com o ajuntamento de uma coleção por tipos, desde os cinco anos de idade, em 1969, com moedas da república, ex-colónias e algumas pesetas. Mas o mais relevante aconteceu 4 anos depois.
Lembro-me como se tivesse sido ontem, quando uma minha tia revelou que tinha encontrado no meio de uma parede da casa, ao fazer obras, um saco com 164 moedas em bronze e cobre. Tinha moedas desde o reinado de D. João VI ao de D. Luís, onde a data mais recente era 1875. As moedas de D. Luís estavam em maioria e de belas a soberbas. Em fraco estado de conservação como este pataco, eram menos de 10 moedas.
O meu azar é que durante o espaço de um mês que elas foram mostradas a curiosos, havia duas ofertas de compra para o saco das moedas: 1500 escudos pelo presidente da junta da freguesia da minha tia (a 12 km de Barcelos) e 1750 escudos pelo padre da freguesia vizinha.
A minha “sorte” é que o meu pai também mostrou aos 7 filhos algumas dessas moedas, no Natal de 1973, e apenas eu é que fiquei completamente “louco” com o que via. O pataco é enorme nas mãos de um rapaz de 9 anos, assim como os XX réis de D. Luís !!!
Consegui reunir em duas semanas o mínimo que a minha tia exigia: 2000 escudos.
Em meados de Janeiro de 1974 fui na minha pequena bicicleta, roda 16, a casa da minha tia com um saco de notas e moedas, que reuni de familiares e irmãos mais velhos.
Começou nesse dia uma grande aventura, porque o empréstimo não era a fundo perdido e em poucos meses caí na realidade, tinha que vender parte do tesouro para recuperar o dinheiro e pagar as dívidas!
Ainda não tinha completado 10 anos de idade e já conhecia vários comerciantes de moedas em Braga e no Porto. Alguns com várias técnicas para me desvalorizarem as moedas: esta foi limpa com um pano, esta está sem brilho.
O Sr. Rafael em Braga, foi quem me comprou a maior parte das moedas. Claro que as moedas no estado que estavam eram fáceis de vender, mas tive que aceitar valores baixos para conseguir o que queria. Os III réis de D. Luís, a 30 escudos, os V e X réis a 50 e os XX réis a 60 escudos. Patacos de D. Maria II a 100 e os de D. Miguel a 150 escudos.
O que me custou mais vender foi um Pataco de D. Pedro IV de 1826 por 200 escudos, quando no catálogo de Ferraro Vaz já apresentava o valor de 450 escudos. Era melhor que esta viewtopic.php?f=4&t=126423&p=891886#p891886
Foram à volta de 100 moedas que tive que vender para recuperar os 2000 escudos. Menos mal, porque em várias viagens de autocarro e comboio apenas duas vezes é que alguém da minha família me acompanhou. :)

A vida nem sempre corre bem e hoje só este pataco resta desse tesouro.
Bela história, pena não ter ficado com o lote todo :thumbs:

Collectorr
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por Collectorr » sexta mai 01, 2020 9:25 pm

Ainda hoje se encontra moedas nas parede de casas velhas :beer:

diogo78
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por diogo78 » sexta mai 01, 2020 9:27 pm

Que bonita história, fez-me viajar no tempo, obrigado por isso.

MCarvalho
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por MCarvalho » sexta mai 01, 2020 9:33 pm

Caro amigo Matos, lembro-me de já ter referido, por alto, essa história. E sempre achei fascinante. Tantas vezes as colecções, as paixões, começam assim, com um episódio. Seria interessante ouvir as memórias de todos nós, como é que cada um começou a interessar-se por este gosto comum, que, sendo comum, deveria servir para unir, em vez de... enfim, segregar.
MCarvalho

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silvio2
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por silvio2 » sexta mai 01, 2020 10:10 pm

Obrigado, amigo José Matos, por compartilhar connosco esta bonita história. Fascinante, sem dúvida! :D
E, já agora, parabéns pelo exemplar (... e pelo significado que tem para si, na sua "já longa relação com as moedas") :thumbupleft:
Cumprimentos,
Sílvio Silva

Alfonsvs
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Re: Pataco de 1825, desde Janeiro de 1974

Mensagem por Alfonsvs » sexta mai 01, 2020 10:27 pm

Quantos amigos ganhei aqui no Fórum, à custa da paixão pela Numismática!
Percorri milhares de km para participar em encontros, feiras, leilões, ver coleções, estar com esses amigos.
Sou dos poucos que fui assistir a inúmeros leilões da Numisma e perder apenas uma tarde de trabalho, apenas para sentir o ambiente que rodeia um leilão e sem comprar uma única moeda. No total são 720 km que faço para assistir a um leilão da Numisma. Participei em mais de 30 leilões.
O que sinto pela numismática não sei definir, mas sei que posso contribuir mais.
Já organizei feiras de numismática, já iniciei feiras de velharias, que agora são regulares, já participei em exposições de numismática, participei na fundação da quarta associação de numismática em Portugal.
As moedas que ofereci a novos colecionadores jovens foi um prazer sem igual.
José Matos

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