EQUADOR - O SUCRE

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doliveirarod
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EQUADOR - O SUCRE

#1 Mensagem por doliveirarod » domingo jan 26, 2020 10:57 pm

equador.jpg
EQUADOR: Em tempos pré colombianos era o Equador a “Terra do Jaguar” dos incas, que em meados do séc. XII tinham iniciado sua expansão naquelas áreas, conquistado os povos nativos e aumentado seu império. As terras eram ricas, principalmente em potencial agrícola, favorecendo a cultura do milho e da batata. Assim, quando os espanhóis chegaram, no séc. XVI, encontraram não um monte de ruínas, como na América Central dos Maias, mas sim um império nativo em pleno auge de existência. Naquele momento, o império inca se encontrava dividido, a morte do imperador Huayna Cápac (morto por varíola, doença então estranha, que tinha começado a se espalhar pelo Caribe com a chegada dos brancos) deixou em pé de guerra seus dois filhos e herdeiros, Atahalpa e Huascar, era a guerra civil inca, ganha pelo primeiro, que aprisionou o irmão perdedor. Dessa situação de divisão interna souberam se aproveitar Francisco Pizarro e Diego de Almagro, que acabaram por sequestrar e matar o imperador, mesmo tendo recebido o resgate cobrado em ouro. Com a morte de Atahaupa, morre também o império, consolidando-se a conquista espanhola do Peru, a capital inca, e portanto, a conquista também do Equador. Coube finalmente a Sebastián de Benalcázar finalizar a conquista de Quito, ainda defendida por tropas leais a Atahalpa. Com o apoio de povos nativos da região, há muito insatisfeitos com o governo inca, Sebastian investe contra a cidade apoiado por milhares de indígenas. Os generais incas vão sendo paulatinamente derrotados, até que, ante a derrota iminente, queimam a cidade e escondem seus tesouros (uma “lenda” até hoje, nunca encontrados). Chegando na cidade devastada e sem rastro de ouro, o irado espanhol promove um massacre entre a população civil. Em acordo com Almagro e Pizarro, Sebastian é nomeado governador da cidade arrasada, e a refunda com o nome de San Francisco, em homenagem a Francisco Pizarro. Conquistados os índios, os espanhóis começam a fundar novas cidades, e entram em lutas internas por poder. Carlos V criou para Almagro e Pizarro duas governações, uma para cada, mas disputas fizeram com que os os partidários de Pizarro matassem Almagro, e, posteriormente, os partidários de Almagro, liderados por seu filho, se vingam, matando Pizarro no palácio do Peru. Segue a colonização espanhola e a exploração da mão de obra indígena nas minas. Os movimentos de independência surgem em 1822, quando os revoltosos conseguem derrotar os exércitos espanhóis ali estacionados, juntando-se as terras do Equador, recém libertadas, à Grã-Colômbia fundada por Simon Bolívar, o “Libertador”. A separação e o surgimento da República do Equador ocorrem em 1830, e em 1860 ocorre finalmente a unificação do país, conturbado por disputas internas. A economia era baseada na exportação de cacau para a Europa, e com o declínio desta, na exportação de bananas. A descoberta de petróleo deu ao país fôlego financeiro. Em 1942, acaba por perder para o Peru as terras que pretendia na bacia Amazônica, após uma guerra breve.


O SUCRE – CRIAÇÃO. Antes da criação do Sucre, o Equador produzia em sua Casa da Moeda reales de prata republicanos, seguindo o padrão espanhol, porém, com liga geralmente bem inferior. Em meados do séc. XIX, a Casa da Moeda, já obsoleta, encerra suas atividades, de maneira que o meio circulante fica composto de moedas equatorianas de liga baixa, velhas moedas espanholas de reales em ouro e prata, mais bem aceitas no comércio, várias moedas estrangeiras, principalmente americanas, além de pratas de países vizinhos. Essa “Babel” corrente dificultava sobremaneira a vida comercial, sendo necessária a padronização e a modernização do giro. Em 1869, o governo requer aos bancos que atuavam no território nacional que recolhessem as moedas “febles” (liga baixa), dando-lhes oportunidade em créditos para colocar em circulação, posteriormente, a nova moeda nacional a ser criada. As primeiras peças surgem em 1872, com a adoção do sistema francês (União Monetária Latina), mas são apenas moedas de 1 e 2 centavos em cobre.

A nova moeda surge finalmente em 1884, após uma reunião da Assembleia Constituinte em Quito, que buscava racionalizar o sistema circulante. Assim, surge o decreto que criava o Sucre, nova unidade monetária nacional que se dividiria em 100 centavos (sistema decimal), de circulação e liberação obrigatória em todo o Equador, baseado na moeda americana, não mais no sistema francês, visto a grande quantidade de dólares inseridos na economia. O nome Sucre foi dado em homenagem ao Marechal José de Sucre, líder das revoltas que levaram à independência do jugo espanhol, a sugestão foi dada pelo padre Julio Matovelle, e acatada pela Assembléia.

Nesse ano, foram autorizadas as emissões em prata 0,900 de 1/10, 2/10, ½ e 1 Sucre. Em 1893 surge a moeda de 1/20 de sucre. A moeda de ouro de 10 sucres surge em 1899.

As características do Sucre e suas divisionárias são sempre as mesmas, embora pequenos detalhes estilísticos mudem devido às diversas casas com as quais o governo contratava:

Rev: REPÚBLICA DEL EQUADOR – DATA – BUSTO À ESQUERDA
Verso: PESO EM GRAMAS – FACIAL – 0,900 INICIAIS DO ENSAIADOR – CASA DE CUNHAGEM – ARMAS NACIONAIS


As casas de cunhagem que assumiram as produções dessas peças, visto a inexistência de Casa da Moeda nacional, foram:

-LIMA (Peru)
-HEATON (Inglaterra)
-SANTIAGO (CHILE)
-PHILADELPHIA (EUA)
-BIRMINGHAN (Inglaterra)


As iniciais dos ensaiadores da Casa do Peru (Lima), são dos seguintes:

T.F. - Juan Torrico y Mesa & José Agustín Figueroa
J.F. - José Agustín Figueroa
F.G. - Francisco Gamarra


-Segue a série de prata e as quantidades cunhadas por cada casa:
sucres2.jpg
sucres1.jpg
(aqui um exemplar de cada Casa de cunhagem deste valor)

1 SUCRE
PRATA 0,900
25 GRAMAS
KM 31
Rebordo - DIOS ORDEN LIBERTAD



1884 Heaton -250.000
1888 Heaton -100.000
1888 Santiago -373.000
1889 Heaton -150.000
1890 Santiago -327.000
1890 Lima -287.000
1891 Lima -143.000
1892 Heaton -060.000



sucremedio.jpg
½ SUCRE
PRATA 0,900
12,5 GRAMAS
KM 30
Rebordo - DIOS ORDEN LIBERTAD

1884 BIRM. – 020.000

* Sem dúvidas uma das mais difíceis. Uma data apenas, com tiragem muito baixa.

sucrequint.jpg
2/10 de SUCRE
PRATA 0,900
5 GRAMAS
KM 29


1884 Heaton – 025.000
1889 Heaton – 050.000
1889 Lima – 075.000
1889 Santiago – 1.000,000
1890 Heaton – 075.000
1891 Santiago – 230.000
1891/89 Lima – 025.000
1892/89 Lima – 1.138,000
1893/89 Lima -390.000
1894/89 Lima – 150.000
1895/89 Lima – 160.000
1895 Philadelp. – 5.000,000
1896/89 Lima – 109.000
1912 Lima – 050.000
1914 Lima – 110.000
1914 Philadelp. -2.500,000
1915 Lima – 157.000
1916 Philadelp. 1.000,000


sucredez.jpg
1/10 de SUCRE
PRATA
0,900
2,5 GRAMAS
KM 28

1884 Heaton – 050.000
1889 Heaton – 100.000
1889 Santiago - 1.000,000
1890 Heaton – 150.000
1892 Lima – 350.000
1893 Lima- 848.000
1894 Lima – 206.000
1899/4 Lima – 220.000
1899 Lima (incerta)
1900 Lima – 480.000
1902 Lima - 519.000
1905 Lma – 250.000
1912 Lima – 030.000
1915 Birmin. - 1.200,00
1916 Philad. – 2.000,000


sucrevin.jpg
1/20 de SUCRE
PRATA
0,900
1,25 GRAMAS
KM 27

1893 Lima (incerta)
1894/3 Lima – 243.000
1897 Lima – 800.000
1899/7 Lima – 560.000
1899 Lima (incerta)
1902 Lima – 1.000.000
1905/6 Lima – 500.000
1912 Lima – 20.000,000
1915 Birming. – 2.000,000


As moedas com esse padrão forte seguiram em produção até 1916. Com a Primeira Guerra Mundial e suas crises, a produção é suspensa. O sucre voltaria a ser batido em prata com o surgimento do Banco Central do Equador, em 1928, mas com tamanho e liga reduzidos (0,720). Com a alta da prata em 1935, a moeda equatoriana tem seu valor intrínseco superior ao facial, e as unidades desse metal naturalmente vão sumindo do mercado. Em 1944, o governo tenta ainda manter a cunhagem em prata, batendo a moeda de 5 Sucres (25 gramas – 0,720) junto à Casa da Moeda do México. Porém, já em 1945, elas desaparecem de circulação.
Finalmente, devido a diversas crises econômicas, o governo decide, no ano 2000, acabar com o cansado e inflacionado Sucre, que desaparece, substituído pelo dólar americano.

Antonio Jose de Sucre2.jpg
A EFÍGIE: ANTONIO JOSÉ DE SUCRE. Nascido na Venezuela em 1795, filho de um militar espanhol. Em 1810, no início da revolta venezuelana contra a Espanha, entra nas tropas de Miranda. Debeladas essas forças, foge do país, retornando em 1813, para ajudar nos esforços de libertação da América Espanhola. Em 1817, o próprio Bolívar o concede a patente de coronel, recebendo, em 1819, o título de general de brigada. Em 1822, liderando o exército revolucionário do Sul da Colômbia, venceu, perto de Quito, a batalha de Pichincha, encerrando de vez o domínio da Espanha na região. Em 1824, junto com Simon Bolívar e frente a pouco mais de 6.000 homens, vence o general espanhol José de Canterac, pondo fim definitivo ao controle espanhol na América do Sul. Após a independência, foi presidente da Bolívia entre 1825 e 1827. Foi assassinado no Equador, perto de Quito, numa emboscada em 1830, enquanto cavalgava.
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silvio2
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Re: EQUADOR - O SUCRE

#2 Mensagem por silvio2 » domingo jan 26, 2020 11:14 pm

Mais um magnífico apontamento, na "linha" do que já nos "habituou" o caro amigo Fabiano.
Muito interessante "resenha histórica" e excelentes moedas. :D :clap3:
Parabéns e obrigado, pela disponibilidade e partilha. :thumbupleft:
Cumprimentos,
Sílvio Silva

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soga80
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Re: EQUADOR - O SUCRE

#3 Mensagem por soga80 » terça jan 28, 2020 10:41 pm

Mais um magnífico tópico... muito obrigado...belas informações

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fernanrei
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Re: EQUADOR - O SUCRE

#4 Mensagem por fernanrei » quarta jan 29, 2020 9:59 am

Excelente tópico que está muito bem organizado. Além de servir como matéria para apoio à organização deste tipo de moedas, ainda mostra excelentes exemplares das mesmas. :clap3:
"Quod erat demonstrandum"

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